Após uma violência sexista absurda em plenário, eu volto a falar sobre a violência contra as mulheres no Parlamento nesse espaço.
Não nos calarão!
A violência contra a mulher, assim como o racismo, está no cotidiano da nossa sociedade. Quanto mais avançamos em visibilidade, trabalho e empoderamento, mais constantes e acirrados são os ataques e discursos de violência ao qual somos expostas.
O Parlamento brasileiro não está distante da nossa realidade, infelizmente ele é reflexo do machismo e do racismo.
Nós, mulheres negras, somos 27,8% da população brasileira, o maior grupo populacional do país, porém enfrentamos dados de baixíssima representatividade na política. Em 2016 o número de mulheres negras eleitas, tanto para vereadoras quanto para prefeitas, não chegou a 5%. Em 2020, houve um aumento nas candidaturas, mas a porcentagem de eleitas não alterou muito.
Os dados da ocupação da política por gênero também são alarmantes. Em 2016, mesmo tendo sido a maior eleição com representação feminina na Câmara dos Deputados, a ocupação de mulheres chegou só a 15%.
Se por um lado temos a baixíssima participação de mulheres e de mulheres negras, por outro 80% das mulheres candidatas e eleitas sofreram algum tipo de violência sexista na campanha ou no Parlamento.
O Parlamento brasileiro é a reserva do espaço branco, cis, masculino no Brasil.
Sem a participação das mulheres, LGBTQIA+ e das populações negras e indígenas, nossa verde e imatura democracia não tem possibilidades de amadurecimento, avanço e consolidação.
Nossa presença incomoda no parlamento, pois quebramos ciclos históricos dos clãs masculinos e familiares, incomodamos aqueles que estão a serviço das elites econômicas.
A nossa situação frente à política é tão grave que temos uma única conclusão sobre os futuros presidentes do país, sendo de esquerda ou direita ele será homem, cis, branco, dito hétero.
Precisamos avançar democraticamente rumo à diversidade para deixar de ser o país que mais mata travestis e transexuais, para reverter os dados de feminicídio e violência doméstica.
Para demarcar terras indígenas e proteger nossos quilombos. Precisamos avançar no enfrentamento à política de morte que ronda o país junto aos genocidas.
Nós, mulheres negras, junto a aliadas e aliados de luta, temos um projeto justo, igualitário e radicalmente democrático para o país.
Não farão política sem nós!