Andréia de Jesus

Quem tem medo das mulheres negras na política?

Projeto justo, igualitário e radicalmente democrático para o país


Publicado em 17 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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 Após uma violência sexista absurda em plenário, eu volto a falar sobre a violência contra as mulheres no Parlamento nesse espaço.

Não nos calarão!

A violência contra a mulher, assim como o racismo, está no cotidiano da nossa sociedade. Quanto mais avançamos em visibilidade, trabalho e empoderamento, mais constantes e acirrados são os ataques e discursos de violência ao qual somos expostas.

O Parlamento brasileiro não está distante da nossa realidade, infelizmente ele é reflexo do machismo e do racismo.

Nós, mulheres negras, somos 27,8% da população brasileira, o maior grupo populacional do país, porém enfrentamos dados de baixíssima representatividade na política. Em 2016 o número de mulheres negras eleitas, tanto para vereadoras quanto para prefeitas, não chegou a 5%. Em 2020, houve um aumento nas candidaturas, mas a porcentagem de eleitas não alterou muito.

Os dados da ocupação da política por gênero também são alarmantes. Em 2016, mesmo tendo sido a maior eleição com representação feminina na Câmara dos Deputados, a ocupação de mulheres chegou só a 15%.

Se por um lado temos a baixíssima participação de mulheres e de mulheres negras, por outro 80% das mulheres candidatas e eleitas sofreram algum tipo de violência sexista na campanha ou no Parlamento.

O Parlamento brasileiro é a reserva do espaço branco, cis, masculino no Brasil.

Sem a participação das mulheres, LGBTQIA+ e das populações negras e indígenas, nossa verde e imatura democracia não tem possibilidades de amadurecimento, avanço e consolidação.

Nossa presença incomoda no parlamento, pois quebramos ciclos históricos dos clãs masculinos e familiares, incomodamos aqueles que estão a serviço das elites econômicas.

A nossa situação frente à política é tão grave que temos uma única conclusão sobre os futuros presidentes do país, sendo de esquerda ou direita ele será homem, cis, branco, dito hétero.

Precisamos avançar democraticamente rumo à diversidade para deixar de ser o país que mais mata travestis e transexuais, para reverter os dados de feminicídio e violência doméstica.

Para demarcar terras indígenas e proteger nossos quilombos. Precisamos avançar no enfrentamento à política de morte que ronda o país junto aos genocidas.

Nós, mulheres negras, junto a aliadas e aliados de luta, temos um projeto justo, igualitário e radicalmente democrático para o país.

Não farão política sem nós!

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