Minha mãe me dizia para ficar fora da política, eu sempre a considerei muito sábia, mas fui desobediente nesse item. Ou melhor, só lhe desobedeci em parte.

Poucas vezes alguém me perguntou por que nunca considerei me candidatar a cargo político em eleição. Que me lembro, nunca ninguém me perguntou isso. Se bem que o Faustão me chamava de “futuro prefeito de Sorocaba”, e eu gostava. É uma pergunta que nunca me faço. Parece uma escolha tranquila a minha de privilegiar a profissão de ator. Mas teve um breve momento em que convivi com a ideia de ser candidato.

Foi por volta de 1992, meu amigo, professor Adair Rocha, insistiu para que eu assinasse uma ficha de filiação ao Partido dos Trabalhadores (PT). Eu havia participado da campanha em que Luis Inácio Lula da Silva perdeu para Fernando Collor de Mello, em 1989, e podia ser uma opção como deputado federal.

 “Mas eu não quero! E a rejeição que sentiria se tivesse poucos votos? A única vez que concorri a alguma coisa, a chapa de oposição, ao Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro (Sated-RJ), sofri queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus, e perdemos! “Assina, não custa, ninguém vai te obrigar. Mas, de repente, decide, aí já está com a ficha assinada e dentro do prazo”.

Preenchi a ficha e esqueci. Um dia, ao abrir o jornal, lá estava meu retrato. Provável candidato, dizia o título. Gostei da foto. E do título. Pensei: “serei o puxador da legenda, terei muita exposição no horário eleitoral”. Delírio narcísico total. Peguei a bicicleta e pedalei em direção à academia. No caminho, minha cabeça engendrava diversos discursos com sabor de vitória. Como sempre, ao chegar  à passarela, avistei o peixeiro, com sua pequena banca. Normalmente, eu, sempre querendo ser popular, dava um aceno de longe, cumprimentando. Mas, naquele dia, algo mais intenso se moveu dentro de mim. Apeei da bicicleta e fui ao encontro do homem, que, estupefato, recebeu meu abraço. Enquanto eu o abraçava, eufórico, calculava o número de votos que daquele ato resultaria. Filhos, parentes, vizinhos e amigos do pescador. No mesmo momento, antes mesmo de me desvencilhar do abraço populista, a consciência crítica também se tornou nítida. Pensei. “Isso é apenas o começo. Onde vou parar? Que droga pesada é essa?”.

Desisti da candidatura. Ainda mais que soube que não seria puxador de legenda. Haviam decidido numa reunião do partido. Não foi por falta de vocação para a coisa. Talvez tenha sido pela constatação de excesso. Tenho certeza de que eu poderia ter sido um bom político, jamais seria justamente acusado de corrupção, iria me envolver em causas populares, lutas por novas e melhores leis; mas não gostei nada do que flagrei nos primeiros momentos de minha, ainda bem, cancelada carreira de político profissional.