Se as mulheres fossem representadas de maneira proporcional na Câmara dos Deputados, seríamos 27 eleitas pelo Estado de Minas Gerais a cada quatro anos. Não somos devidamente representadas e também não somos 27, somos quatro neste mandato e, se hoje somos quatro, é porque avançamos no que se refere à presença da mulher na política brasileira. Afinal, desde 1945 apenas 12 mulheres mineiras chegaram à Câmara dos Deputados para representar nosso Estado. Maria do Carmo Lara; Junia Marise; Sandra Starling; Maria Elvira Ferreira; Maria Lucia Cardoso; Margarida Salomão; Nísia Carone; Dâmina Pereira; Raquel Muniz; Alê Silva; Áurea Carolina e Greyce de Queiroz Elias.

São esses os nomes que conseguiram superar todos os obstáculos que embaraçam o caminho de qualquer mulher com aspirações políticas. A última Pesquisa de Amostra em Domicílios (PAD) feita em Minas Gerais aponta que nós, mulheres, somos 51% da população mineira, o que daria aproximadamente 11 milhões de mulheres segundo a última projeção do Censo. Em 2018 elegemos 49 homens para representar uma população de 10 milhões de mineiros e apenas quatro mulheres para serem porta-voz de 11 milhões de mineiras. Parece justo? Não seria muito disfuncional?

A política mineira nos ignora. Não podemos delegar somente aos homens a responsabilidade de representar os nossos anseios, medos, desejos, preocupações e desafios próprios da nossa condição de mulher. O que significa na prática não ter voz e não estarmos representadas nos espaços de poder? Não dar voz é não cuidar. É deixar de lado, desconsiderar. É subestimar nossa capacidade. É menosprezar a nossa existência, as necessidades que são só nossas. É fingir que não estão nos vendo, diminuir nossa importância na economia, na sociedade, na criação dos nossos valores, da nossa cultura.

A política é o espaço de poder que foi inventado para isso. Se não estamos lá, não estamos em lugar nenhum. Eu não quero mais viver em um lugar onde nós somos ignoradas, como se a gente não existisse ou nossa opinião não importasse. E não me venha com esse papo de que mulher não gosta nem se interessa por política. A nossa baixa representação se refere ao domínio da política institucional, ou seja, à ocupação de cargos políticos, porque na política das ruas e das comunidades, as mulheres sempre estiveram fortemente presentes, liderando e resolvendo problemas. Essa realidade demonstra que as mulheres possuem, sim, vocação e interesse para a vida pública, e o que as impede de se candidatarem são as estruturas e os mecanismos de poder de uma política institucional majoritariamente masculina, feita por homens e para homens.

A violência política de gênero, isto é, a violência direcionada à mulher eleita enquanto mulher e não às suas ideias, posicionamentos políticos ou performance na vida pública, certamente também torna a política institucional um ambiente hostil à presença feminina. Esse tipo de violência consiste em atos que visam constranger, menosprezar ou dificultar a atuação da mulher na política. Um exemplo extremamente comum são as reiteradas tentativas de obstrução do acesso da candidata mulher a recursos econômicos básicos a fim de prejudicar suas possibilidades de ação política.

Um aumento da representatividade feminina na política institucional se traduz em um aumento da qualidade da democracia e da qualidade de vida de todos na nossa sociedade. Se servimos para votar, para executar, para cuidar, para operar o trabalho na ponta, também servimos para decidir.