Opinião

A vez dos jovens

Implicações da disseminação da pandemia por novos grupos

Por Augusto Vilela
Publicado em 31 de março de 2021 | 03:00
 
 
 
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Há um ano, quando a pandemia começou e pouco a pouco foi tomando conta dos quatro cantos do mundo, a preocupação maior se instaurou com os idosos e pessoas com comorbidades. Não foi à toa, pois esse grupo possui a saúde mais frágil. Países como Itália e França assistiram – quase que de mãos atadas – à população mais velha se esvair na medida em que o vírus se espalhava.

Até conseguirmos entender quais as melhores ações do ponto de vista médico deveríamos tomar, o número de mortos dia após dia se tornava cada vez mais alarmante.

Máscara, álcool em gel, isolamento, desinfecção, distanciamento social, aglomeração, lockdown. Palavras diferentes se tornaram comuns. Desde março de 2020 – e sabe Deus até quando –. não só essas palavras, mas esse novo modelo de vida em sociedade veio para ficar. Embora tenhamos as vacinas desenvolvidas em tempo recorde, dependemos de decisões e acordos políticos para que países, Estados e municípios comprem as doses e imunizem a população. Mesmo assim, cuidados básicos, como uso da máscara e álcool em gel, não têm data para terminar.

Minas Gerais vive hoje um cenário parecido com o que vimos acontecer em Manaus no mês de janeiro. Ainda não faltam cilindros de oxigênio, mas, na capital, o sistema de saúde público e privado estão com sua capacidade máxima de lotação em leitos de UTI, pacientes estão morrendo à espera de leitos e pelo menos três variantes do vírus estão em circulação. A cidade está à beira do lockdown, pois o colapso já se instalou na saúde.

Você que leu até aqui pode estar se perguntando: e qual é a novidade? A novidade é que antes o vírus tinha um perfil populacional que apresentava maior agravamento em caso de contágio. Agora, chegamos em um ponto incontrolável, pois jovens, crianças, adultos, todos estão no mesmo barco. Jovens abaixo de 35 anos estão sendo intubados, cada vez mais jovens sem comorbidade estão perdendo suas vidas para aquela que era só uma “resenha”, para a viagem do fim de semana que não podia esperar, para a festa clandestina, para o imediatismo e negligência até certo ponto aceitáveis e que faz parte da natureza do jovem.

Mas no cenário de pandemia, imediatismo e negligência não têm vez. Não dá para pedir desculpas ao amigo que foi contaminado pelo vírus porque aceitou seu convite pra sair. Não tem como voltar atrás quando sua avó vira mais um número no fechamento dos mortos. Postar “não posso acreditar” ao ver a morte cada vez mais de perto, não vai conscientizar as pessoas de que são as ações individuais e coletivas que determinam a disseminação da Covid-19.

Não espere testar positivo, enfrentar os sintomas e consequências da doença para mudar a postura diante do cenário em que vivemos. Não vale a pena, há mais ônus do que bônus nesta história toda. Acredite. É só olhar em volta

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