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Belo Horizonte na vanguarda dos dados abertos

Compartilhamento de informações online e mercado imobiliário

Por Florian Hagenbuch
Publicado em 18 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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Ainda hoje, uma das principais dúvidas de quem vai comprar ou vender um imóvel é saber se o preço está acima ou abaixo do que deveria. Normalmente, quem está começando essa jornada se baseia na percepção de quem conhece um pouco mais do mercado local. Porteiros e amigos são fontes comuns, assim como a consulta aos valores anunciados em plataformas online.

A verdade, porém, é que essas fontes têm suas limitações. O preço apontado pelo amigo ou porteiro pode ser o de um apartamento vendido há dois anos e, portanto, desatualizado. Já nos portais, com frequência, os anúncios têm uma “gordura” para negociação – que pode chegar à impressionante marca de 25% do valor do imóvel.

Não seria ótimo se o potencial comprador ou vendedor do imóvel pudesse simplesmente acessar, de qualquer dispositivo conectado à internet, um banco de dados público, confiável, com os valores reais das últimas transações realizadas, naquela região, de propriedades com as mesmas características que ele busca ou possui?

A solução já existe. Cidades listadas entre as mais avançadas no mundo já divulgam mensalmente os dados referentes às transações imobiliárias. É o caso de Miami, onde um portal mostra as informações de todas as propriedades vendidas no município. Além de obter informações sobre um imóvel específico, as pessoas podem comparar a casa ou apartamento que pretendem adquirir com outros similares.

Por que isso é relevante? Um estudo recente, que analisou dados do mercado imobiliário de Israel, mostrou que, quando os dados das transações de compra e venda passaram a ser compartilhados com a sociedade, a variação dos preços registrou uma queda de quase 20%. A mudança beneficiou, principalmente, as famílias com menor poder aquisitivo, que antes tinham pouco ou nenhum conhecimento sobre a diferença do valor anunciado e o efetivamente pago por imóveis similares ao seu.

Fico alegre ao ver que, no Brasil, algumas prefeituras estão tomando a dianteira e ampliando a transparência ao publicar suas bases de dados. É o caso de Belo Horizonte, a primeira cidade do país a divulgar dados de ITBI, anonimizados, com a extensão necessária para análises.

A iniciativa, inspirada nas melhores práticas internacionais, favorece quem deseja comprar ou vender um imóvel, e mesmo quem aluga, já que todos fazem negócios com mais informações. Beneficia, ainda, a própria administração pública, já que a liquidez do mercado tende a crescer com a menor assimetria de informações, aumentando a arrecadação.

Pioneira na criação de uma política de transparência em relação ao setor imobiliário, a Prefeitura de Belo Horizonte tem a oportunidade de liderar agora o aprimoramento dos bancos de dados disponibilizados – o compartilhamento mensal dos números e o enriquecimento das bases com novas informações e recortes, mais específicos, são exemplos de inovações possíveis. A cidade e todos nós só temos a ganhar.

(*) Florian Hagenbuch é fundador e  co-CEO da Loft

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