Os sites de apostas esportivas viraram febre no Brasil e já provocam impacto na economia das famílias, inclusive naquelas que vivem com maior restrição financeira. Cada vez mais pessoas estão se interessando pelos jogos online, espalhadas em todas as classes sociais, até mesmo em camadas sem emprego formal ou que recebem benefícios do governo.
Pesquisa divulgada recentemente aponta que 17% dos beneficiários do Bolsa Família disseram ter apostado ou já terem feito apostas esportivas online; e, desse percentual, quase um terço (30%) relata gastar ou ter gastado mais de R$ 100 por mês.
O dinheiro desperdiçado com jogos e o endividamento aumentam a pobreza, dificultam o acesso a alimentação, saúde, educação e lazer e prejudicam a qualidade de vida de muita gente. É natural que as pessoas queiram ganhar dinheiro fácil, e muitas acabam se iludindo com o universo das apostas, que, infelizmente, não as farão crescer financeiramente.
Os jogos que envolvem dinheiro mexem com sentimentos bastante intensos, de esperança, medo, coragem, poder e ganância, e podem gerar descontrole e sérios prejuízos financeiros, profissionais e familiares. As pessoas que acabam ultrapassando limites e sendo impulsivas podem sofrer sérias consequências, e o mais recomendável é buscar ajuda profissional para reverter a situação.
Com o acesso à internet, os jogos que envolvem dinheiro estão cada dia mais acessíveis e presentes na vida das pessoas, inclusive crianças. Acredito que quem decide jogar deveria proteger as finanças, seguindo as cinco regras a seguir:
1. Aposta não é investimento.
É preciso compreender que são categorias diferentes. O mundo das “bets” e dos jogos que envolvem dinheiro não é uma forma de investimento, mas uma aposta. O que uma pessoa consegue obter de resultado com investimentos depende do que ela sabe e de como consegue agir diante das movimentações do mercado. É por isso que, no mesmo período, existem pessoas ganhando e outras perdendo dinheiro; e no mesmo tipo de investimento, seja ele mercado de ações ou de imóveis. E esse não é o universo das apostas esportivas.
2. Definir uma quantia mensal/anual e cumprir o limite preestabelecido
É fundamental estabelecer um valor máximo que será usado em jogos e ter a disciplina e o autocontrole para respeitar esse limite. A pessoa precisa se proteger dela mesma, já sabendo que é um ser emocional, suscetível a influências momentâneas, talvez impulsivas, e que precisa criar gatilhos para não se prejudicar. Isso é um desafio, mas, com disciplina e autocontrole, é possível ter resultados incríveis em investimentos.
3. Praticar hábitos de guardar e investir dinheiro, em vez de apenas jogar
Se a pessoa definir que quer apostar e correr o risco do jogo, deveria estabelecer a regra de usar a mesma quantia para guardar e investir. Se quer jogar R$ 100 por mês, vai passar a investir R$ 100 mensalmente em algo mais seguro, como Recibo de Depósito Cooperativo (RDC) ou Certificado de Depósito Bancário (CDB), títulos do Tesouro Direto etc. Ela deve criar uma contrapartida para se permitir jogar usando dinheiro.
4. Ao ganhar dinheiro com jogos, direcionar o dinheiro para investimentos
Por exemplo, se a pessoa apostou R$ 100 e teve a sorte de ganhar R$ 500, uma boa prática seria direcionar R$ 400 para investimentos seguros que possam gerar renda extra, passiva; sempre mantendo a disciplina de não gastar esse dinheiro. A renda passiva é o dinheiro que uma pessoa ganha que não depende diretamente de sua dedicação de tempo, como renda de aluguel, dividendos, rendimento de investimentos etc.
5. Entender que dinheiro é tempo de vida dedicado ao trabalho.
É preciso ter em mente que o que se recebe por meio do trabalho é resultado de tempo dedicado, e esse tempo nunca mais volta. Por isso, o ideal é evitar desperdícios e usar o valor estrategicamente, com responsabilidade, ética e sustentabilidade.
Deixo uma sugestão final: se você tem filhos ou é educador(a), supervisione o acesso e o uso desses jogos, garantindo que sejam adequados à idade, que promovam valores positivos e que não representem riscos financeiros ou emocionais para as crianças e jovens.
Educadora financeira e fundadora da Oficina das Finanças