Opinião

Como fazer uma literatura antirracista?

O racismo deve ser combatido não só no campo das ideias, mas também na prática

Por Olívia Pilar
Publicado em 30 de novembro de 2023 | 14:23
 
 
 
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Olívia Pilar é escritora, mestra e doutoranda em Comunicação Social pela UFMG. Autora de “Um traço até você”

Quantos livros você já leu com protagonistas negros? Entre essas leituras, quantos tinham seus enredos contados de forma complexa e diversa, quantos encontraram um par romântico e quantos foram felizes no final? 

Pesquisas, como as da professora Regina Dalcastagnè (UNB), demonstram a homogeneidade do campo literário no Brasil: autores e protagonistas são, em sua maioria, homens, brancos, heterossexuais e de classe média.

Em um país onde pessoas negras são muitas e múltiplas: por que não nos vemos protagonistas das mais variadas histórias? Por que não vemos mais escritores negros nas maiores editoras do país?

Diversas intelectuais negras vem pontuando ao longo da história de que o racismo deve ser combatido não só no campo das ideias, mas também na prática. No presente que evidencia nosso passado escravagista, ter ações que alarguem a representatividade se torna necessário, inclusive, e principalmente, na arte.

Novo cenário

Um interessante cenário começa a ser delineado na literatura endereçada ao público jovem: livros pautados em personagens mais reais e complexos ganham leitores no país. Diversidades de corpos, de formas de amar e de raça são apresentados em tramas que mostram a vida do jovem adulto contemporâneo.

Para ter uma literatura antirracista precisamos abrir espaço para que autores negros e não-brancos contem suas histórias, das mais variadas. E no nosso contexto capitalista, fazer com que novas vozes tenham espaço na literatura requer que consumamos esses autores. Engajar nas redes sociais, comparecer a lançamentos, divulgar, comprar o livro e ler esses autores são atitudes valorosas para mudarmos o cenário de apagamento dessa produção, que muitas vezes é reduzida a um pequeno círculo.

Isso não é, claro, uma determinação de quem pode e deve escrever determinadas histórias. Em um cenário ideal, esperamos que a diversidade apareça em todas elas, desde que escritas com dedicação e sensibilidade para não reproduzir vocabulários e narrativas estereotipadas e opressoras.

É esse percurso que busco trazer para as minhas próprias narrativas. Escrevo histórias com protagonistas negras para um público jovem que ainda está se formando. E, apesar de ter minhas vivências particulares enquanto uma mulher negra, sempre que termino uma história sinto que ela só existe porque outras, escritoras e narrativas, vieram antes de mim.

Protagonistas negras são importantes porque ao contar suas histórias, falamos sobre várias outras garotas negras por aí, com desejos, sonhos, medos e muita vontade de ser feliz. Desconfio que toda escritora negra se sente exatamente assim.

 

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