Opinião

Como o dinheiro ajuda salvar o lobo-guará e outros bichos

Nota de R$ 200 e a megadiversidade brasileira

Por Jussara Utsch
Publicado em 03 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

A emissão de 450 milhões das recém-criadas cédulas de R$ 200, conforme anunciou o Banco Central, tem opositores e defensores ferrenhos. Mas sejam quais forem os impactos que possa causar na economia, a entrada em circulação da nova nota, com a imagem do lobo-guará estampada no verso, tem a vantagem de contribuir para a divulgação de mais uma espécie da fauna brasileira ameaçada de extinção.

Símbolo da região do Cerrado e com algumas ocorrências em outros biomas do país, como Mata Atlântica e Pantanal, o lobo-guará está ameaçado, principalmente, por causa da descaracterização ambiental que destrói seu habitat natural, dos atropelamentos em estradas que cruzam suas matas e da caça ilegal. Sua população vem sendo dizimada e hoje, talvez, não chegue a 24 mil animais, que podem desaparecer completamente se não houver preservação dos habitats e combate às ilegalidades, além da conscientização e educação ambiental.

Neste sentido a nota de R$200 com o lobo-guará e a de R$50 com a onça-pintada cumprem o papel, ainda que timidamente, de apontar um problema que vem se agravando ao longo dos anos. De acordo com o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMBio, 2018) o primeiro levantamento de risco de extinção, em 1968, apontava 44 espécies ameaçadas. Na última avaliação a lista apresenta 1.173, quase 27 vezes o número inicial.

Notas e moedas passaram a ter exemplares da fauna brasileira destacando a biodiversidade em 1994, ano em que o padrão monetário nacional se tornou o real e quando 182 países, incluindo o Brasil, assinaram o primeiro acordo internacional sobre mudanças climáticas, Desde então, Beija-flor (R$1, que deixou de ser fabricada em 2005) Tartaruga marinha ( R$ 2), Garça (R$ 5), Arara-vermelha (R$ 10), Mico-leão ( R$ 20), Onça-pintada (R$ 50) Garoupa (R$ 100) circulam diariamente de mãos e mãos entre milhões de brasileiros. Independentemente do valor monetário estas cédulas representam uma oportunidade para que as pessoas conheçam a realidade de uma fauna que contribui para que o Brasil seja megadiverso, detentor da maior biodiversidade da terra. Entre vertebrados, aves, peixes, répteis, anfíbios e invertebrados, são reconhecidas no Brasil atualmente, segundo o ICMBio, 117.096 espécies de animais. Uma diversidade que torna o país o primeiro do mundo, por exemplo, em número de espécies de anfíbios e primatas.

É imperativo entender que o potencial econômico de nossa biodiversidade é incalculável. Precisamos conhecer mais sobre a megadiversidade que nos coloca na privilegiada condição de principal provedor potencial de insumos biotecnológicos. É como se tivéssemos um gigantesco HD repleto de informações preciosas, mas que precisam ser conhecidas, analisadas, trabalhadas, de maneira inteligente, responsável e sustentável. É a nossa chance de agregar valor a estes insumos biotecnológicos advindos dessa riqueza natural.

Em relação à fauna são necessárias ações de prevenção, conservação, manejo e gestão para minimizar as ameaças e o risco do desaparecimento de espécies. Instrumento legal para isso já existe, por meio do Programa Nacional de Conservação das Espécies Ameaçadas de Extinção (Pró-Espécies), mas não basta. Salvar o lobo-guará e outras tantas espécies ameaçadas de extinção exige conscientização e uma educação ambiental amplamente disseminada em todos os setores da sociedade. A circulação do dinheiro permite que as pessoas tomem conhecimento da existência dos bichos. A partir disso, deveriam começar a valorizar a fauna brasileira do mesmo modo que valorizam seus recursos financeiros, e pensar nos animais como bens que devem ser protegidos e preservados, como o próprio dinheiro.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!