Os números da pandemia do novo coronavírus não param de assombrar. Nas últimas semanas, foram várias as regiões do país que sofreram com a falta – ou o temor da falta – de leitos de UTI nos hospitais. Em Minas Gerais, a taxa de ocupação ultrapassou os 60%, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. Na Grande São Paulo, chegou a 90%, de acordo com o governo do Estado. No Amazonas, um colapso, com o número divulgado pela Secretaria de Saúde atingindo os 96%.
Em meio a todos os questionamentos que a Covid-19 provoca, o sistema de saúde se destaca. Temos hospitais suficientes? Equipes suficientes? Uma estrutura adequada para lidar com a situação que estamos vivendo? Se criticar o cenário durante o furacão parece fácil, ignorar o aprendizado que ele traz é difícil. E ele traz muitos.
No atual sistema brasileiro, formado para cuidar da saúde da nossa população, existem formas de não sobrecarregar os hospitais emergenciais. Mas falta conhecimento sobre isso e mais unidades. Um exemplo são os hospitais de transição, indicados para as pessoas que estiveram (ou estão) internadas por um tempo, que ainda precisam de cuidados essenciais, mas não demandam intervenções de alta complexidade e terapia intensiva existentes em hospitais gerais.
Recursos
Em uma população com expectativa de vida cada vez mais alta, que nos leva automaticamente a um novo perfil epidemiológico de doenças prevalentes, essas instituições aparecem como uma boa opção para pacientes crônicos ou com doenças degenerativas. Eles requerem tratamento especial, cuidados prolongados que visem a reabilitação, readaptação e reinserção social, garantindo maior autonomia e uma melhor qualidade de vida. Ou seja, cuidados continuados e integrados que os hospitais emergenciais não teriam como ofertar ou a falta de leitos seria bem mais constante do que em casos isolados.
Os hospitais de transição contam com equipes médicas e multiprofissionais treinadas, taxas reduzidas de doenças infecciosas, sólidas medidas de segurança assistenciais e tudo aquilo que um paciente se recuperando de Covid-19, por exemplo, poderia precisar. Bastaria a transferência para uma unidade de transição para que aquele leito, até então ocupado no hospital geral, pudesse servir a alguém em fase aguda de tratamento com necessidade de maior suporte tecnológico, diagnóstico, cirúrgico e monitoramento médico intensivo.
Saúde integrada
Vale destacar que os hospitais de transição podem ajudar – e muito – em casos de tragédias com grande número de pessoas. Existe atendimento para todos, falta organizar. Se a quantidade de hospitais de transição fosse maior, teríamos mais médicos e leitos disponíveis para as vítimas do coronavírus. Em tempos em que se fala tanto em medicina personalizada e preventiva, talvez esteja na hora de pensar mais em saúde integrada.
Se as Unidades Básicas de Saúde, as Unidades de Pronto-Atendimento, os hospitais de transição e os especializados fizerem seus papéis, os emergenciais conseguirão atender mais e melhor. É um ganho para todos. Mas é preciso esquecer a ideia de que não há mais nada o que se possa fazer. Pelo contrário. Mais do que nunca, temos que fazer e sabemos o que fazer