Os sistemas de transporte de passageiros urbano e interestadual no país enfrentam há vários anos problemas para continuar operando. As sucessivas crises econômicas com a falta de investimentos na infraestrutura da malha rodoviária e de corredores de faixas exclusivas nas cidades tornaram os custos de operação ainda mais altos. E, para não dizer que os problemas se limitaram apenas a essa esfera, o setor ainda enfrenta diariamente a concorrência desleal do transporte clandestino e dos aplicativos de transporte.
Desde 2013 o setor tem sofrido perdas significativas na demanda de passageiros e, mesmo com as dificuldades, o serviço vinha se mantendo firme em suas operações. Mas nada comparado ao cenário atual com a pandemia da Covid-19. As medidas de isolamento social afetaram duramente as empresas. O setor já se encontrava em pré-colapso e, se nada for feito, o colapso total está perto de acontecer.
Os dados são alarmantes, a queda na demanda de passageiros superou os 70%. Mesmo com todas essas restrições, o serviço de transporte de passageiros por ônibus continua funcionando ofertando mais de 50% das viagens, sendo o principal meio de transporte para levar a maioria da população aos hospitais, farmácias e supermercados.
Recentemente a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) produziu um relatório que contabilizou mais de R$ 2,5 bilhões em prejuízos do setor no Brasil. Já a Associação Brasileira de Transporte Terrestre de Passageiros (Abrati), que reúne as companhias de ônibus interestaduais informou que as empresas tiveram prejuízos de R$ 2,8 bilhões até agora, o que representa 40% do faturamento anual. Em números, o segmento de transporte de passageiros no Brasil, gera mais de 1,8 milhão de empregos diretos e indiretos. Só em Minas Gerais são mais de 100 mil.
E o cenário não é favorável para os próximos meses. Com esse total desequilíbrio entre oferta e a demanda, a conta das empresas de transportes não fecha, e torna-se ainda mais insustentável a situação. Se o governo federal não adotar nenhuma medida de socorro, o quadro ainda tende a piorar ainda mais.
O ministro Paulo Guedes, recentemente, destacou em entrevista a importância de manter o sistema de transporte público operando para poder garantir a mobilidade da população, principalmente a de baixa renda, que depende exclusivamente do transporte público. E sinalizou uma verba do Programa Mais Brasil, para Estados e municípios, com parte para custear os prejuízos do setor nesse momento de pandemia. Em muitos países, o governo tem subsidiado os prejuízos das empresas para manter o transporte coletivo operando.
Além do auxílio, necessitamos retomar gradualmente nossas atividades com segurança, seguindo todos os protocolos do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), ou não teremos como evitar a falência das empresas e a suspensão total do serviço nos próximos meses.
Rubens Lessa também é presidente do Conselho do Sest/Senat e da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros de Minas Gerais (Fetram)