Há 20 anos, a então diretora geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gro Brundtland, disse que “o tabagismo é uma doença transmissível a partir da mídia, da indústria do entretenimento e mais diretamente pelas ações de marketing da indústria do tabaco”. As associações do marketing com sucesso, prazer, liberdade, virilidade, entre outras, continuam a incentivar a iniciação de jovens e adolescentes ao consumo desses produtos, geradores dependência química e transtorno mental.
Há décadas a população mundial enfrenta a pandemia do tabagismo. A dependência do fumo é responsável por 7 milhões de mortes anuais, além de cerca de 1,2 milhão de mortes de pessoas expostas ao fumo passivo. No Brasil, o tabagismo causa 157 mil mortes ao ano.
Os custos diretos da assistência médica relacionados ao tabagismo equivalem a 8% de todo gasto público e privado em saúde do país. Adicionados os custos indiretos de produtividade perdida por morte prematura e incapacidade para o trabalho, os gastos equivalem a 0,96% do PIB nacional. Já a arrecadação de impostos do setor fumo cobre menos de um terço dessas perdas.
O recente estudo “Interferência da Indústria do Tabaco no Brasil: a Necessidade do Ajuste de Contas”, apresentado pelo Instituto Nacional de Câncer estabeleceu uma relação entre a parcela do lucro da indústria do tabaco investida em ações de marketing para atrair novos fumantes, e os gastos nacionais com o tratamento das doenças causadas pelo tabagismo. Concluiu que para cada R$ 1 investido pela indústria em promoção, patrocínio e propaganda, o Brasil gasta praticamente o dobro com assistência à saúde.
Fica evidente a necessidade de equilibrar a balança “custo governo x lucro privado”, elevando os impostos sobre os produtos de tabaco e vinculando sua arrecadação para ações de saúde.
*Felipe Lacerda Mendes é secretário executivo substituto da Comissão Nacional de Controle do Tabaco/INCA e mestre em Saúde Pública.
**João Ricardo Viegas é coordenador regional das Américas para a Convenção Quadro da OMS para Controle do Tabaco e analista de C&T do INCA.