Andarilho, psicopata, miserável, sem-teto, viciado, fugitivo, desajustado, excêntrico, revoltado, mendigo, desempregado, discriminado, catador, flanelinha ou fisicamente incapacitado. O morador de rua pode ter qualquer uma dessas características, ou algumas delas, ou nenhuma ou outra não identificada. A dificuldade de se definir e conceituar o morador de rua é proporcional à dificuldade de se estabelecer uma política para acabar com o problema. A diversidade de causas torna complexa uma solução baseada em um único mecanismo.

Ninguém mora na rua por opção de vida. O indivíduo em condições adversas certamente foi vítima de alguma fatalidade ou perda e não tem vontade própria. O maior bem físico desejado por um ser humano é um lar com conforto e com o calor da família. Tudo nos remete para a Lei de iniciativa da PBH - Programa Estamos Juntos, criando mecanismos para inclusão dos moradores de rua, hoje estimados em cerca de 5.500 na Grande BH. O programa conta com a tímida colaboração da iniciativa privada, criando vagas para a habilidade de cada um.

Um programa realista deve partir de um pressuposto básico: sempre haverá moradores de rua, seja em Londres, Amsterdam, Rio de Janeiro, Ipatinga, Blumenau ou Nova York, independentemente da realidade econômica local. Observa-se que o problema tem sido minimizado nas cidades onde houve uma efetiva intervenção da sociedade civil. Uma experiência curiosa em Londres transformou moradores de rua em guias turísticos. Conhecedores de locais diferentes, eles se transformaram em opção para um turismo a pé, com roteiros não cobertos pelas agências. O programa denominou o grupo como "Sock Mob" quando se descobriu que a maior necessidade dos moradores de rua era de meias.

Comparado com outros centros, o problema de Belo Horizonte não chega a ser alarmante, seja pela existência de alguns programas assistenciais, seja pelo comportamento pacífico desse morador. O sentimento geral é que falta uma coordenação para centralizar os programas e movimentos já existentes, como os da Polícia Militar, do Albergue Noturno Municipal e da Pastoral do Povo da Rua da Arquidiocese. Ponto importante já caracterizado é a necessidade de descriminalizar o comportamento do morador de rua, orientando a atividade da polícia como um importante corpo auxiliar.

Os nossos representantes políticos falam muito, mas falam para dentro. Reclamar e virar as costas não resolve. É encarar ou calar a boca. Aqui, em Belo Horizonte, estamos revitalizando as praças, criando salas e museus e promovendo concertos musicais ao ar livre. Tudo muito bonito. Nas praças recuperadas existe, também, um ser degradado que precisa e merece ser recuperado. Assim nossa cidade vai ficar certamente bem mais humana.