A cada pergunta, no mínimo duas respostas há: aquela breve, enxuta, outra mais ampla e, às vezes, divagante. No que diz respeito à resposta curta, a palavra “lusofonia” explica a si mesma. Trata-se de justaposição das entradas “luso”, que do latim quer dizer “relativo a lusitano”, e “fonia”, essa já vinda do grego, equivalente a “língua”. Trocando em miúdos, lusofonia pode ser entendida como “qualidade daqueles que falam a língua dos lusíadas”, lusos ou portugueses.
Se a pulga atrás da orelha pulou, fica o rodapé: Lusitânia foi o nome atribuído a uma província ibérica, correspondente hoje à parte da Espanha e de Portugal.
Assim como a palavra “lusíadas”, Lusitânia vem de “Lusus”, figura legendária ligada a Baco e creditada como fundadora mitológica da região.
Desse literal boca-a-boca etimológico, viria inclusive o título da magistral obra de poesia épica escrita por Camões nos idos dos séculos XVI, “Os Lusíadas”... percebem como já passamos à segunda forma de responder uma pergunta, aquela mais ampla e que incorre na possibilidade da perda do fio da meada? Façamos, então, neste espaço curto, alguns sobrevoos que poderiam ser longos.
A lusofonia, celebrada ao 5 de maio, é também entendida como uma comunidade de 9 países espalhados no globo cuja língua materna, administrativa ou secundária é o português. Essa população esparsa de cerca de 280 milhões de pessoas tem corpo institucional na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, fundada em 1996 com o objetivo de aproximar os estados-membros por meio da cooperação financeira e cultural. Por sinal, sabia que a mencionada CPLP promove uma espécie de Jogos Olímpicos dos falantes de português, os Jogos da Lusofonia? Se não, calma, assim como ocorreu ao passar a saber quem foi Lusus, pouca coisa vai mudar em sua vida.
O que talvez mude, ou incomode pelo menos, é a interpretação de intelectuais, como Adriano Freixo, quem defende que, salvo para Portugal, a CPLP seria desprovida de sentido para os seus membros. Para ele, a instituição teria sido originada nos interesses específicos portugueses, com a busca de reinserção internacional no cenário de pós-Guerra Fria por meio da aproximação às ex-colônias.
Na mesma linha crítica, o português Boaventura de Sousa Santos aponta que a CPLP está demasiadamente focada em Brasil e Portugal. Nem tudo são flores ou mera etimologia, não é?
Atalhando o escrito: afinal, o que é Lusofonia? Bem, mais do que conceitos aqui entregues, lusofonia parece não ser nem a resposta curta, nem aquela mais longa, embora permeie ambas. Ao meu lusófono, parcial e amador ver, lusofonia parece ser uma “vivência”, ou experiência, que articula tacitamente distintas visões de mundo sob um mesmo nome que não comporta todas suas particularidades. Falar em “trama de diferenças”, como afirmou Laura Padilha, ou mesmo em “lusofonias”, aparenta ser o mais acertado; isso já é, porém, o pontapé para uma discussão ampla...