Assusta-me ser cansativo com o repasso de temas já tão batidos, mas falo com base em uma experiência de 30 anos como julgador. No meu caminho diário, convivo com contradições e confrontos de opinião e interesse. Aprendi a respeitar algo que parece estar em desuso em nosso dia a dia político-administrativo, o bom propósito.
Pessoas não são obrigadas a concordar. Todos acabamos, sempre, tendo opiniões próprias muitas vezes levadas pelos meios de comunicação ou guindadas por nossas deficiências pessoais. Afinal, o feio sempre acha que o bonito lhe exibe a feiura. Mas é necessário o bom propósito admitido, maior, mesmo face a nossas mesquinharias humanas diárias. Podemos discordar, mas mantendo a boa-fé, o respeito, a honestidade e o bom propósito.
Um exemplo clássico é a crise de saúde que o mundo atravessa. Ora, se nem sequer os profissionais de saúde sabem o que fazer para combater esse vírus monstruoso capaz de matar sufocados a nós e àqueles a quem amamos, todo o resto torna-se palpite. Mas, na ausência do bom propósito estão tripudiando, superfaturando, explorando e se engalfinhando para manifestamente usar o vírus como cabo eleitoral ou como membro de quadrilha.
Se sai o bom propósito, entra o desespero, a agressividade audaciosa, medrosa dos ratos que querem acuar para não se sentirem acuados. Aliás, a experiência diz que marca maior de insegurança não há do que uma autoridade arbitrária, agressiva, irresponsável, inconsequente. Juiz de partida de futebol que aparece em campo é porque apita mal. E estamos saboreando um clima de confronto contrário ao bom propósito entre os Poderes no qual os apitos e cartões estão banalizados.
Tesouro
Esse confronto está dentro de cada um dos Poderes, com assaques verbais, denúncias absurdas e processos usados como meio de intimidação. Gostaria de dizer aos senhores que bandido não tem medo de processo. Ele acredita que sempre se sairá bem. Bandido gosta de tumulto, floresce onde falta a lucidez pura capaz de unir.
A população fica com a respiração presa cada vez que os Poderes encarregados de a representar se arranham em escaramuças sem bom propósito além de futricas passageiras, birras, crises de ego e chiliques, abrindo espaço para criminosos profissionais de terno e gravata se esbaldarem. O bom propósito é um tesouro e, na máxima do livro santo em Mateus 6:21 está gravada a lição de que “onde estiver seu tesouro, ali estará seu coração”.
A vida é tão passageira, as moléculas da matéria se dissipam e reorganizam com tanta brevidade que cada vez mais percebemos que o verdadeiro tesouro não tem de ser descoberto, e sim sentido e manifestado, O verdadeiro tesouro não tem de ser guardado ou escondido, e sim compartilhado, a fim de que, dessa forma, tenhamos um ambiente menos opaco, menos denso.