Artigo

O erro da campanha

Abstinência sexual na juventude


Publicado em 19 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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Uma discussão acalorada ganhou o Brasil recentemente: a campanha de abstinência sexual promovida pela ministra Damares. Sua intenção, se não tivesse viés religioso e ideológico, até se justificaria: proteger jovens de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce. Afinal, são questões sociais muito urgentes no Brasil. Contudo, o método escolhido é equivocado e retrógrado.

Na história da humanidade, está provado e comprovado que a negação de qualquer coisa pode resultar em incentivo. Por exemplo: em conventos da Idade Média, momento em que a castidade era altamente obrigatória, aconteciam os mais variados surtos psicóticos e coletivos: freiras miavam para a Lua, encenavam ato sexual para terceiros, entre outras coisas.

Mas não precisamos ir tão longe: basta nos lembrarmos dos considerados “líderes espirituais e curadores” da nossa atualidade que, por vezes, escondem episódios de abusos morais, sexuais etc. Apesar de alguns considerarem esses casos mais radicais, vale lembrar a teimosia das crianças: tente dizer “não faça isso” para uma criança de 2 a 4 anos, e ela fará exatamente o contrário. No fim, quanto mais se nega, mais o que foi negado cresce.

Com a campanha de abstinência sexual, acredito, não será diferente. Sem entrar no evidente viés ideológico da campanha, faz-se importante entender: primeiro, a necessidade de sexo é natural. Biologicamente, é uma demanda de parte do nosso cérebro, o límbico, responsável pelas emoções, comportamentos sociais e aquela necessidade de se sentir saciado, seja pelo sexo e/ou pela comida.

Segundo, o ser humano não necessita de proibições, mas de informação. Não será uma estratégia de publicidade que evitará gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis, mas sim uma campanha social e educacional ampla, de casa em casa, de escola em escola, para formar a mentalidade e o comportamento da população.

Ela deve levar informações sobre cuidados com o próprio corpo (afinal, corpo não é objeto); sobre as consequências de uma gravidez precoce; de doenças sexualmente transmissíveis; e de contraceptivos. Campanha com esse nível de detalhamento já é feita, por exemplo, na Finlândia, e os resultados têm sido favoráveis.

De acordo com a psicologia analítica, o ser humano não precisa de proibições, mas de informações que ampliem a consciência do indivíduo, do grupo, do bairro e da sociedade, como um todo. Somente com consciência de nossos atos é que seremos capazes de tomar decisões benéficas em prol de todos.

Enquanto isso, vale lembrarmos o que C. G. Jung afirma: até nos tornarmos conscientes de nossos atos, o inconsciente vai dirigir nossas vidas, e, no fim, chamaremos isso de “destino”.

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