Os acidentes de trânsito no Brasil provocam um rombo anual de 3% do PIB. O equivalente a R$ 223 bilhões é usado para pagar custos de socorro, tratamento médico, danos ao patrimônio, investigação policial e perda de produtividade. Esse dinheiro permitiria, por exemplo, pagar o novo auxílio emergencial de R$ 250 a 40 milhões de brasileiros durante o ano todo, e ainda sobrariam R$ 100 bilhões para investir na compra de vacinas, medicamentos, oxigênio e na abertura de leitos para atender os pacientes de Covid-19.

O exercício matemático tem sua razão de ser: acidentes de trânsito podem ser evitados. Além de salvar milhares de vidas e evitar novos casos de invalidez permanente, isso permitiria reduzir os gastos com os acidentes, como acontece em países mais desenvolvidos.

A falta de adoção de políticas que encarem a segurança viária como uma questão de saúde pública, somada à flexibilização das leis de trânsito e à adoção de medidas que relegam a ciência a um plano secundário, impede que o Brasil reduza as mortes nas ruas, estradas e rodovias. O aprimoramento de ações voltadas à segurança viária não salva apenas as vidas de quem está envolvido nos acidentes. A redução dos gastos e a consequente disponibilização de recursos permitirá que o governo possa realizar investimentos imediatos em áreas estratégicas para a geração de empregos e para o desenvolvimento do país. Ou, em momentos de crise sanitária e recessão econômica como a que vivemos, pode ser fonte de recursos para ampliação de programas de transferência de renda e no reforço do Sistema Único de Saúde (SUS), que enfrenta desafios diários para atender uma demanda cada vez mais alta.

Outro aspecto da violência viária é o seu impacto na Previdência Social e na perda de força produtiva. Todos os anos, cresce o número de pessoas que sofreram algum tipo de invalidez permanente e passam a depender do INSS. Segundo levantamento da Seguradora Líder, em 2020 foram pagas 210.042 indenizações por invalidez permanente.

A maior parte das vítimas de trânsito é composta por homens jovens, muitos dos quais sustentam seus lares e, de uma hora para outra, perdem sua fonte de renda.

Esta talvez seja a consequência mais nefasta da insegurança viária: centenas de milhares de famílias são levadas para abaixo da linha da pobreza na mesma velocidade em que ocorre o acidente.

O atual cenário econômico e a consequente redução de renda circulante obrigam que os governos revejam seus gastos públicos. Investir em segurança no trânsito não é mais uma ação que sugere cortes, pois apresenta uma fonte imediata de recursos a partir da mudança de gestão e entendimento do Sistema Nacional de Trânsito, encarando-o com a responsabilidade que esse problema de saúde pública exige de gestores, especialistas e da sociedade civil.