O risco é de todos nós

Isolamento social, reportagens, vídeos informativos e de humor, crianças e adolescentes em casa, trabalho remoto – enfim, uma nova era, uma experiência nunca vivenciada antes. Estamos, a “duras penas”, aprendendo muito.

Descobrimos que existem pessoas que não podem cumprir o isolamento social porque não têm casa para se isolar. Nunca imaginamos que a população de rua fosse tão grande. Algum dia alguém parou para pensar nisso? Pois é, agora descobrimos que o problema não é só deles, é nosso também. Se ficam amontados na rua, não só eles, mas todos nós corremos o mesmo risco.

Descobrimos o quanto o comércio informal é importante para todos, que os trabalhadores autônomos não têm, em sua maioria, uma legislação que lhes garanta algo, que se param não terão como sustentar suas famílias, e, se continuam, o risco não é só deles, é de todos nós.

Descobrimos que professores, sem nunca ter gravado um vídeo em sua vida, se tornaram virtuais da noite para o dia. Muitos nem sabem ainda como seus direitos trabalhistas e de imagem vão lhes garantir tamanha façanha. Mas estão indo à campo, dando suas aulas virtuais, mesmo sem saberem fazer, sem terem sido preparados para isso. No momento, é tudo o que têm para oferecer aos seus alunos, porque, se saírem para as escolas, o risco não é só deles, é de todos nós.

Descobrimos que pais, descabelados, estão tentando reinventar uma rotina em casa. Entre afazeres domésticos e trabalhos profissionais, viraram professores também e estão tentando dar conta de tudo, ensinar, lavar, passar, finalizar o trabalho virtual, ser marido e mulher. As famílias estão se reinventando porque, se saírem pra trabalhar ou mandarem seus filhos para a escola, o risco não será só delas, será de todos nós.

Descobrimos que motoristas de transporte coletivo, caminhoneiros, médicos, enfermeiros, açougueiro, padeiro e trabalhadores do setor alimentício precisam trabalhar, mesmo correndo riscos, porque, se não trabalharem, o risco não será só deles, mas de toda uma nação.

Descobrimos que os políticos precisam tomar decisões sensatas e rápidas. Não é hora de brigar qual partido fez ou não fez algo, a hora é de fazer, porque, se não fizerem, o risco não é só deles, é de todos nós.

Descobrimos que as comunidades não podem lavar as mãos porque falta água e sabão em muitas delas, então o jeito é cada um ir no seu armário pegar um sabão, produtos de higiene, limpeza e alimentos e doar, rezando para que o problema da água se resolva rápido, porque, se eles se contaminam, o risco não é só deles, é de todos nós.