A pandemia de Covid-19 vai mortificando uma parcela da humanidade, não de forma democrática, como poderiam pensar alguns, mas, ao contrário, com impactos absurdamente desumanos entre a população negra, nas Américas, Europa e em África. Em parte por causa do racismo estrutural que permeia as relações sociais e políticas em diversas nações, mas, também, como resultado das opções governamentais, em que o regime de escravidão foi substituído pelo uso da mão de obra ex-escravizada e sua inserção desigual nas sociedades modernas.
Inserção sem qualquer aporte humanitário. Portanto, a exclusão dos povos negros é anterior à Covid-19, e a tragédia provocada pelo vírus só agudizou situações que já eram de conhecimento da sociedade internacional, como a fome e a falta de saneamento básico nas cidades e a prevalência de negros em áreas geográficas desprovidas de requisitos mínimos para viver, as periferias.
Hoje, com o adensamento do coronavírus ficou evidente tais corpos não suportam a enorme carga de agressões; 67% dos moradores de favelas já estão passando fome! E em países como Estados Unidos, por exemplo, a grande maioria dos mortos pela Covid-19 são de pessoas negras, conforme o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Isto é aquilo que chamamos de genocídio em tempos tenebrosos de ódio e do extermínio da juventude negra. Pois, na lógica atual de modelo neoliberal, corpos negros e periféricos podem ser descartados por meio da necropolítica e da exclusão das pessoas negras do mundo do trabalho.
Uma justificativa para essa análise real dos impactos da Covid-19 entre a população negra é que aumentou e vem aumentando, sobremaneira, a massa de desempregadas e desempregados de origem étnica negra no mundo. Quando conseguem emprego, os trabalhadores negros ganham em média 50% a menos que os demais trabalhadores brancos. Situação acirrada pelo aumento do trabalho informal e a chamada “uberização” da classe trabalhadora. Então, encaminhando para pedir um basta a tanta desigualdade, é urgente o engajamento de todas e todos numa ação antirracista, porque não já não é suficiente ser apenas não racista.
Mas como fazer isso? Primeiramente, aderir às diversas campanhas para arrecadar fundos e alimentos para aliviar, temporariamente, a fome de centenas de milhares de famintos orgânicos. Em seguida, injetar políticas de Estado em prol das maiorias que construíram as riquezas das nações desde que a humanidade saiu da Núbia rumo ao norte. E, seria bom já declarar como prioridade mundial a volta da felicidade nos próximos anos. Pois, chega de mazelas e governos autoritários que, de certa forma, conseguiram avacalhar o avanço social, mas não vão impedir que o pacote de maldades racistas seja desfeito.
Depois dessa chicotada, não é possível que a sociedade internacional não entendeu nada da lição que deverá ser feita para a preservação da espécie humana. Agora.