Um professor fumou em sala de aula e se mostrou agressivo. Essa notícia circulou nas redes sociais, e o que não faltou foi julgamento. É, estamos tão acostumados a julgar e condenar que logo milhares de pessoas partiram para o ataque.
Ele fez certo? Lógico que não! Mas, alguém aí tentou “calçar os sapatos dele”? É, já devem ter ouvido essa expressão. Antes de julgar tente calçar meus sapatos. Tente entrar em minha vida, experimentar viver o que vivo antes de me apedrejar.
Não quero defender o indefensável, por favor, não me interpretem assim! Quero apenas trazer uma discussão que poucos se preocupam em debater. Quero perguntar se estão, escolas e políticas públicas, preocupados em cuidar de quem tanto cuida.
Falta de noção de ética e respeito entre jovens
Se eu contar, pelo menos um pouquinho, do que um professor que lida com adolescentes passa em sala de aula, muitos que não conhecem a docência, vão achar que, desta vez, eu surtei e exagerei demais, de tantos causos absurdos e situações desrespeitosas que um professor tem que lidar, além de garantir o aprendizado.
Infelizmente, vivenciamos uma geração de alguns adolescentes que não têm a menor noção do que sejam as palavras ética e respeito. Ainda bem que não são todos, temos uma galera muito bacana também transitando nas salas de aulas, muitos adolescentes respeitosos e encantadores, mas esses pequenos tiranos, conseguem tirar qualquer um do sério e o professor tem que estar muito bem para, com equilíbrio e paciência, lidar com tantos desafios.
Um professor, muitas vezes, faz malabarismo em sala de aula para prender a atenção dos alunos. Ele disputa, o tempo inteiro, com o celular. O uso do celular é permitido e muito bem-vindo em sala de aula como mais uma ferramenta para que o conhecimento esteja presente. As aulas com uso do celular são incríveis, há jogos e muita diversão que conversa com conteúdos curriculares e isso é muito bacana, no entanto, quando é pedido que deixem o celular e prestem atenção no professor, ou façam uma atividade sem o uso do celular, a resistência é enorme!
Ensino de regras básicas pelos pais
Tem dias em que o professor chega a pedir para um mesmo aluno várias vezes em uma aula de cinquenta minutos que guarde o celular. Se o celular é recolhido para que o professor possa, pelo menos tentar dar sua aula, a revolta surge logo.
Porque fazem isso? Simplesmente porque não estão acostumados a cumprir regras básicas, porque falta aquela educação que papai e mamãe, esqueceu de dar, ou se deu, também não são respeitados e, para não entrarem em conflito com o filho, fingem que não estão vendo.
O professor precisa ser cuidado. Precisamos ter políticas públicas que pensem nesse cuidado com o docente. Nós professores lidamos com uma das coisas mais sérias deste país. A educação, se não for bem ministrada, será reprodutora de um caos cada vez maior. É preciso que estejamos bem emocionalmente para enfrentar uma sala de aula com tantas diversidades e desafios.
Saúde mental dos professores
Cada vez mais a escola está tendo que assumir uma educação que não é dela! O professor, além de cuidar para que o conhecimento seja adquirido, construído, dialogando com a sociedade, ele precisa “educar” em valores e isso, é função da família. A escola contribui sim com essa formação em valores, mas se a família não for a primeira escola a educar em valores, a escola jamais dará conta disso sozinha e terá que continuar lidando com falta de respeito e educação de alunos que não tiveram a primeira lição em casa. Isso é muito sério.
Se a carreira de docência no país não tiver olhares voltados para o cuidado com a saúde mental dos professores, teremos, infelizmente, casos em que excelentes professores podem perder o equilíbrio sim, somos seres humanos e todos temos limites. Não sei se o caso ocorrido diz de saúde mental do professor, outros milhares de aspectos podem estar envolvidos, não vou julgar o que não conheço, apenas, ao ler sobre o ocorrido, me chamou a atenção para um cuidado que temos que ter com o professor.
Quem cuidará de um aspecto tão importante?
Mais reflexões e menos julgamentos.
(*) Jacqueline Caixeta é assessora pedagógica e palestrante