O ciclo da água está diretamente ligado ao clima. Assim, mudanças no clima que alterem o regime de chuvas podem provocar o aumento da ocorrência de eventos hidrológicos extremos, como inundações e longos períodos de seca, como o que estamos vivendo nos dias atuais.
Depois das chuvas que arrasaram uma Belo Horizonte vulnerável e despreparada para eventos extremos e onde o prefeito diz que “essa água vem do céu, não vem de incompetência administrativa”, vale dizer que estudos climáticos apontam para uma intensificação das chuvas. Um deles, apresentado em 2016 pela própria prefeitura, anunciou dados alarmantes sobre a intensificação dos impactos das mudanças climáticas na capital, como inundações, ondas de calor, deslizamentos e dengue.
O documento previa aumento na ocorrência de chuvas intensas na cidade até 2030 e a ampliação do risco de inundações e deslizamentos. Dizia que os dias mais quentes tendem a ficar mais frequentes e que as ondas de calor devem se intensificar, potencializando as doenças cardíacas e respiratórias.
O estudo recomendava a adoção de medidas para minimizar os problemas e o desenvolvimento do Plano de Adaptação às Mudanças Climáticas, com propostas mais concretas a serem implantadas no município.
Com a mudança de gestão, a ideia não saiu do papel, e, nesse raciocínio, vale a leitura dos economistas Gernot Wagner e Martin Weitzman no livro “Climate Shock”, que analisa as consequências econômicas de um planeta mais quente.
Os autores exploram em termos claros as prováveis repercussões do aquecimento no mundo e demonstram que, quanto mais esperamos para agir, mais provável é que um evento extremo aconteça, por exemplo uma cidade ficar submersa, como ocorreu em BH.
O livro apresenta um exemplo emblemático de como deveríamos nos preparar para um futuro incerto. Para os autores, se você tivesse 10% de chance de sofrer um acidente de carro fatal, você tomaria as precauções necessárias e compraria um seguro de vida.
Então, se sabemos que o mundo está aquecendo e há 10% de chance de que isso possa levar a uma catástrofe além de qualquer coisa que possamos imaginar, por que não estamos fazendo mais sobre as mudanças climáticas agora? Nós compramos seguros para nossas vidas contra um futuro incerto, por que não para o nosso planeta?
O que sabemos sobre mudança climática é alarmante o suficiente. O que não sabemos sobre os riscos extremos pode ser muito mais perigoso. Wagner e Weitzman nos ajudam a entender que precisamos pensar sobre a mudança climática da mesma maneira que pensamos sobre o seguro de vida, como um problema de gerenciamento de risco.
O aumento na resiliência em Belo Horizonte se dará por meio da melhoria das condições de infraestrutura, sistemas de alerta e obras de macrodrenagem para redução de inundações, diminuindo as vulnerabilidades locais, e não apenas culpando são Pedro.