Opinião

Trânsito deixou 50 mil motociclistas inválidos

Dados do primeiro trimestre evidenciam urgência de mudança

Por Alysson Coimbra de Souza Carvalho
Publicado em 29 de julho de 2020 | 03:00
 
 
 
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Os motociclistas são as maiores vítimas da epidemia de acidentes de trânsito no Brasil. Segundo dados da Seguradora Líder, que gerencia o Dpvat – seguro por danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre –, nos últimos dez anos foram pagas 3,2 milhões de indenizações às vítimas do trânsito envolvendo motocicletas e ciclomotores. No período, quase 200 mil pessoas morreram, e outros 2,5 milhões ficaram com algum tipo de invalidez permanente. Os números retratam uma realidade alarmante e expõem a urgência em se adotarem políticas públicas voltadas à proteção dessa categoria.

Durante a pandemia, a combinação entre desemprego e aumento da demanda por serviços de delivery fez crescer também o número de profissionais que passaram a atuar com o motofrete. Seja a serviço de comércios ou aplicativos de entrega, a categoria se expõe a risco duplo, o de contaminação e de acidentes, para garantir o funcionamento da sociedade durante uma das fases mais difíceis já vividas pelos brasileiros.

As motos correspondem a apenas 29% da frota de veículos, mas são as responsáveis pela maioria dos casos de invalidez permanente no trânsito. E a maior parte dessas vítimas é composta por jovens. Para termos uma ideia do avanço desse problema na nossa sociedade, entre janeiro e março deste ano, ainda segundo dados da Seguradora Líder, 49.770 motociclistas ficaram inválidos em decorrência dos acidentes.

Estamos assistindo à criação de um exército de mutilados. São trabalhadores, pais de família, que perderam a capacidade de sustentar suas famílias e passaram a ser dependentes da Previdência Social. Além dos incalculáveis prejuízos sociais e emocionais, a violência no trânsito provoca a sobrecarga do Sistema Único de Saúde (SUS), já que 60% das vagas de UTI são ocupadas por vítimas dos acidentes, e o rombo na economia do país, aumentando os gastos com a Previdência Social.

A ausência de uma legislação trabalhista que dê garantias e segurança a esses profissionais acaba por deixar milhares de trabalhadores entregues à própria sorte, causando ainda mais dor e sofrimento. Neste mês em que se celebra o Dia do Motociclista (27 de julho), é preciso reforçar a necessidade de protegermos esses trabalhadores não só contra a contaminação pelo coronavírus, já que eles estão na linha de frente, mas também contra a insegurança no trânsito.

Toda a sociedade ganha com a redução dos números de acidentes, e esta deve ser uma das preocupações dos governos em todas as esferas. Não é hora de priorizar a flexibilização das regras do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), mas sim de criar mecanismos que promovam a segurança viária.

Alysson Coimbra de Souza Carvalho é médico especialista em medicina de tráfego e membro da Comissão de Assuntos Políticos da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet)

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