O primeiro semestre de 2023 foi marcado por uma série de eventos que impactaram os mercados financeiros locais, deixando investidores e analistas em estado de alerta. Entre os episódios mais notáveis, destaca-se o rombo bilionário, e inesperado, nas finanças da Lojas Americanas, uma das gigantes do varejo nacional.
Outro caso emblemático se deu com uma consultoria financeira contratada pela Light, que entrou em uma condição financeira desafiadora, chamando a atenção para a situação de uma empresa concessionária de utilidade pública ter aprovado o seu pedido de recuperação judicial. A circunstância gerou debates sobre a legalidade do processo.
Esses eventos tiveram um efeito dominó nos mercados, causando incertezas sobre as práticas contábeis e de gestão de outras empresas. O cenário provocou uma saída de investidores de fundos de crédito privado, preocupados com a volatilidade e risco sistêmico, durante a primeira metade do ano. A complexidade desses casos e seus desdobramentos ilustram as nuances e desafios inerentes ao mundo financeiro contemporâneo.
No entanto, o panorama começou a se modificar nos últimos meses, com sinais de recuperação gradual da confiança nos mercados de crédito. Um fator importante nesse processo foi a queda da inflação projetada pelo Focus para um horizonte mais longo. A projeção se aproximou da meta do Banco Central, com um pequeno prêmio de risco nas expectativas do mercado.
Com a inflação corrente também mais comportada, o Copom deu início a um ciclo de cortes na taxa Selic, buscando um relaxamento monetário. A redução dos juros, mesmo que em ritmo gradual, traz perspectivas mais otimistas para as empresas, que agora vislumbram a possibilidade de acessar o mercado de capitais para alongar seus compromissos de curto prazo.
Além disso, a recuperação dos fundos de crédito privado foi impulsionada pela queda dos spreads de crédito, que estavam em níveis historicamente elevados, fazendo com que os fundos de crédito privado apresentassem retornos interessantes para os investidores no período recente.
A combinação entre a redução dos juros e a estabilização do mercado de crédito abriu oportunidades para investidores, que voltaram a confiar na solidez desses instrumentos financeiros, gerando um fluxo positivo de alocação nessa classe de ativo.
O ano de 2023 exemplificou algumas das complexidades inerentes aos mercados financeiros, em que eventos aparentemente isolados podem desencadear ondas de volatilidade e incerteza. Mas também demonstrou a resiliência desses mercados em se adaptar e se recuperar diante das adversidades.
O ciclo de corte da taxa Selic sinaliza uma nova fase para as empresas, trazendo um alívio financeiro em seus balanços e incentivando a busca por oportunidades, promovendo, assim, um horizonte mais otimista para o cenário econômico e do crédito privado.
Rodrigo Dias é CEO Butiá Investimentos e associado Amcham