Open Mind Brasil

Viagens de negócio e o contato que não tem preço

Um aperto de mãos e muito mais que isso

Por Lúcio Júnior
Publicado em 01 de setembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Confesso que é uma cena que eu gostava de ver: a mala sempre pronta no canto do quarto. Saudade de estar em várias cidades na mesma semana. Acordar às 4h da manhã para pegar o voo às 6h não é a parte mais agradável dessa lembrança, mas nem isso é suficiente para aplacar a falta que o contato presencial faz.

Não poder me deslocar para encontrar um parceiro de negócios foi uma das minhas grandes perdas como executivo durante a pandemia. Aliás, foi esse rompimento com o tradicional modelo de reuniões que me motivou a criar o Open Mind Brazil, uma rede dedicada a conectar executivos.
Foi preciso um grande período de isolamento social para entendermos que um aperto de mãos é muito mais que isso. Encontrar a pessoa e olhar nos seus olhos, perceber como ela está emocionalmente, qual é a abertura e a disposição dela para as negociações, sentir o ambiente são informações que conseguimos, especialmente, na interação presencial.

Claro que demos o nosso jeito. A tecnologia salvou muitos negócios. Desenvolvemos estratégias para diminuir a frieza da tela e deixar o contato remoto mais humano. Mas nada substitui o calor de uma reunião presencial, simplesmente, porque é nesse contato que conseguimos exercer uma das habilidades mais importantes para quem está à frente de grandes decisões o tempo todo: a capacidade de ler nas entrelinhas. Muitas vezes não entendemos de onde vieram o insight, as palavras ou aquela nova proposta que virou uma negociação que tendia a não vingar. Hoje sei: vieram das entrelinhas, daquela informação que captamos só quando estamos “face to face”.

Os estudos sobre a linguagem do corpo nos mostram isso muito bem. Um cruzar de braços, um olhar para baixo, um entortar de boca são sinais sutis, que nos indicam se estamos ou não no caminho certo e que, nem sempre, uma tela deixa transparecer.

Sei de executivos que conseguiram, de alguma forma, manter os encontros presenciais. Eles relatam que não foi fácil transitar por aeroportos vazios, com restaurantes e serviços fechados, voos com mais tripulantes que passageiros. Mas o ganho de estar perto superou as imagens deprimentes pelo caminho.

A boa notícia é que o turismo de negócios começa a dar sinais de recuperação. Pelas contas da Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas, o faturamento das empresas do setor, em julho, cresceu quase três vezes em relação ao mesmo período do ano passado.
A associação avalia que, se a variante delta não avançar, os números de outubro já serão parecidos com os do período pré-pandemia.

Com a retomada da mobilidade, o tempo nos dirá se o contato presencial traz melhores resultados que os negócios fechados remotamente. Independentemente disso, hoje eu já tenho uma certeza: esse contato olho no olho nos melhora como pessoa. Eu aprendi a valorizar esses encontros porque me sinto mais gente quando estou perto, desfrutando de uma presença única e, durante muito tempo, rara.

 

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