O TEMPO

Governo truculento e sindicato fragilizado

Redação O Tempo


Publicado em 08 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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As comunidades escolares, as direções das escolas e os educadores e educadoras que compõem a Rede Municipal de Contagem estão vivendo em sobressaltos desde que os tucanos e seus apoiadores assumiram a cidade no início do ano. Para inaugurar sua reentrada no cenário educacional, começaram rasgando o calendário escolar aprovado pelo Conselho Municipal de Educação e determinaram que os profissionais estudassem algumas portarias e resoluções destinadas a " reorganizar" o trabalho docente. A novidade é que os técnicos-burocratas da Seduc apresentaram um documento grosseiro ,com indícios de compilação de documentos produzidos em outras praças em que "ressuscitavam" as gestões tucanas da década de 1990 e o Programa de Qualidade Total, gestado no esplendor do neoliberalismo. Os chavões autoritários que permeavam o cotidiano da escola até o início do século XXI, voltaram a ser proferidos: Equipe Técnica, Supervisão ,Disciplinário, Chefia Imediata ,etc, como se a atmosfera conservadora pós impeachment tivesse dado um salvo conduto para uma volta ao passado. Na solidão ,os trabalhadores se perguntavam: onde está o Sind-Ute, aquele sindicato de luta que combateu essas políticas nefastas dos mandatos de Ademir Lucas e Altamir Ferreira, que manteve a firmeza e a coerência nas lutas travadas durante os governos de Marília Campos ,em que não faltaram embates, mas também não faltaram acordos como a construção de uma programa de educação democrático e inclusivo, que se consagrou na aprovação do sonhado Plano de Carreira(LC 90/2010) e na recuperação integral das perdas em 2012?

Os meses se passaram e a política tucana de "valorização", com o salário abaixo do Piso Salarial Profissional Nacional, agregado a um calendário de reposição desumano e a cortes de dias parados, teve o efeito de preparar o caminho para a destruição da educação de Jovens e Adultos, a pavimentação do caminho para expulsar das escolas a juventude negra, pobre e da periferia da cidade. O segundo semestre começou e outro pesadelo chegou: o "compromisso de gestão" ,eufemismo do "choque de gestão", que destruiu o estado de Minas Gerais por mais de duas décadas.E onde estava o sindicato combativo que quase emparedou o governo Carlin Moura, com três greves em quatro anos, que incentivou o voto na oposição de direita nas eleições de 2016, embora com conquistas histórias como a revisão da progressão da carreira, a implantação da jornada de 30 horas do Quadro Administrativo, a licença para mestrado e doutorado, a realização da Conferência Municipal de Educação, o retorno das formações em serviço no horário de trabalho e a construção do Plano Municipal de Educação? Obviamente que foi um governo com erros, alguns imperdoáveis como as agressões aos grevistas na porta da prefeitura e o congelamento de salários em 2015 e 2016,mas chamar o voto na direita tratou-se de um erro que a história já está cobrando.

Ao chegar ao fim do ano, os tucanos apresentam á rede sua proposta de reorganização, testada e rejeitada em São Paulo na primavera das ocupações das escolas em 2015.Inspirados no modelo de Sobral-CE, a SEDUC ultrapassou todos os limites do razoável ao querer impor a fusão de comunidades educativas no mesmo espaço físico ,desrespeitando a escola como um ambiente de convivência e de construção de identidades coletivas onde ao lado das comunidades religiosas são os únicos espaços de interação social para alguns segmentos da população. A persistir o atual estado de coisas, a categoria será engolida pela truculência do governo e pela fragilidade da direção sindical. Os dois caminhos juntos nos levarão á derrotas e á destruição da educação pública.

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