Bella Gonçalves

A crise política em BH e a mobilidade urbana

Na briga entre prefeitura e Câmara, estamos do lado do povo

Por Bella Gonçalves
Publicado em 28 de outubro de 2021 | 03:09
 
 
 
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Temos acompanhado com atenção a crise política que se instaurou no poder público municipal, desde que foi revelada uma gravação de conversa entre o prefeito Alexandre Kalil e seu ex-chefe de gabinete Alberto Lage, na qual o chefe do Executivo sugere que empresas de transporte poderiam estar financiando a defesa do ex-presidente da BHTrans Célio Bouzada diante das irregularidades reveladas pela CPI da BHTrans na Câmara. A gravação veio à tona no mesmo dia em que o dono do escritório que defende Bouzada foi nomeado integrante do Conselho de Ética da prefeitura. Por si só, ela não constitui prova de conluio do prefeito com os empresários, mas reforça a necessidade de seguir investigando a relação entre os empresários de transporte e os agentes públicos, sejam eles quem for.

A população já está cansada de saber que as empresas de ônibus mandam e desmandam em Belo Horizonte e fazem isso por meio da chantagem com o poder público municipal. Até hoje, nenhuma gestão municipal teve ousadia e coragem suficientes para romper com essa lógica. E é por causa dessa relação que as empresas descumprem normas contratuais, como foi o caso da retirada dos agentes de bordo dos ônibus ou, mais recentemente, a volta de circulação de veículos com mais de dez anos de uso.

É importante destacar que a gravação da conversa entre o prefeito e seu chefe de gabinete foi revelada pela CPI da Covid na Câmara, que, ao contrário da CPI do Senado – que apontou crimes contra a vida na condução da pandemia –, tem forte presença de setores da extrema direita negacionista, que buscam palanque para se projetar, fortalecer Zema e derrubar Kalil, com vistas às eleições do ano que vem.

Nosso trabalho na Câmara Municipal, especialmente na CPI da BHTrans, tem sido no sentido de desmontar a máfia do busão em BH e acabar com os privilégios ilegais desse setor. Sempre denunciamos os termos do atual contrato e, diante das evidências da formação de cartel durante a licitação, defendemos que ele seja encerrado e uma nova licitação realizada, com critérios técnicos definidos, duração curta e controladoria social. Mas só isso não basta.

Temos trabalhado muito firmemente pela devolução do adiantamento milionário que a PBH fez às empresas do transporte no começo da pandemia e que também está cheio de irregularidades. Nós sempre fomos contra esse adiantamento, mas, uma vez que ele já foi empenhado, nosso esforço agora é para garantir que nenhum centavo desse recurso fique com os empresários, que já lucraram demais às custas do sofrimento do povo.

Em conversa com o prefeito Alexandre Kalil, ele nos garantiu que enviaria ao Legislativo um projeto de lei para direcionar esse recurso à implementação de um auxílio-transporte para famílias pobres e extremamente pobres por um ano e vale social para pessoas atendidas por políticas municipais de assistência. Uma política que, além de ajudar a quem mais precisa, sem impactos para os demais usuários, vai ajudar na recuperação econômica da cidade, possibilitando que as pessoas busquem emprego e acessem equipamentos de cultura e lazer. Esperamos que o prefeito cumpra com seu compromisso enviando ao Legislativo o PL e que a Câmara deixe de lado as diferenças que possam existir com o Executivo e aprove a medida em favor das pessoas que não podem pagar para se moverem na cidade.

Nós, da Gabinetona BH, acreditamos que o conflito entre setores da Câmara e prefeitura não pode atrapalhar a cidade e trabalhamos para que as investigações da CPI da BHTrans resultem no desmonte da máfia do busão e que o povo tenha finalmente ônibus bom e barato. A Câmara Municipal deve cumprir o seu dever de investigar, apontar erros e trabalhar pela responsabilização dos culpados, mas definitivamente não daremos corda a aventuras da extrema direita, conhecida por violar a soberania do voto popular.

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