Bella Gonçalves

O dilema mineiro nas eleições

Sobre as movimentações políticas no Estado

Por Bella Gonçalves
Publicado em 02 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Em todas as eleições presidenciais do período democrático, Minas Gerais cumpriu um papel determinante, não só pelo tamanho do colégio eleitoral, mas pela influência histórica que tem o Estado na conjuntura nacional. Internamente, Minas viverá uma encruzilhada entre dois projetos: de um lado, o governador Romeu Zema (Novo) tenta sua reeleição, do outro, Alexandre Kalil (PSD), que deixa a Prefeitura de Belo Horizonte para tentar alçar voo rumo ao comando do Estado.

O atual governador de Minas vai ter que enfrentar as contradições que se produziram na sua gestão. Em primeiro lugar, Zema é o velho esquema, não tem nada de novo. É o mesmíssimo governo liberal, antipovo, dos conchavos e de uma gestão pública voltada para o interesse privado.

Zema foi contra o reajuste dos servidores estaduais, e embora ofereça uma imagem de gestor competente, que arrumou as contas públicas, a dívida pública do Estado só cresceu nos últimos anos, chegando hoje aos R$ 152 bilhões. Na prática, o governo Zema tem conseguido colocar os salários dos servidores em dia a partir do aumento de uma dívida que será cobrada ao povo.

No tema da mineração, tão caro aos mineiros, Zema o governador do “libera geral”, além de haver reduzido os mecanismos de controle e fiscalização, mesmo tendo vivido nos primeiros dias de seu governo um dos maiores crimes socioambientais e trabalhistas da história do Brasil: a tragédia de Brumadinho.

Recentemente, articulou em seu governo a aprovação do projeto de mineração da Serra do Curral, cartão-postal de BH e patrimônio de todos os mineiros. Deu ruim. A sociedade se mobilizou e agora Zema se vê entre o compromisso que firmou com as mineradoras e a impopularidade que o tema lhe rende.

Para que não reste dúvidas sobre a relação íntima do governador  com as mineradoras, em meio à polêmica  na serra do Curral, Romeu Zema nomeou para a presidência do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), responsável pelo tombamento estadual da serra, a arquiteta Marília Machado, que é prima do diretor executivo e sócio da mineradora que quer explorar a serra, a Taquaril Mineração S/A (Tamisa).

No outro lado, Alexandre Kalil fechou o apoio do Partido dos Trabalhadores (PT), que deve ter a vaga de vice na chapa, que será ocupada por André Quintão. Com a disparada de Lula como grande favorito a ganhar as eleições presidenciais, aumentam as chances de Kalil levar o pleito, com o trunfo de ter sido considerado um dos melhores gestores públicos do país na pandemia da Covid-19.

De qualquer forma, a falta de diálogo do ex-prefeito com os movimentos sociais foi uma marca de sua gestão à frente da prefeitura, e Kalil nunca representou um projeto de esquerda. Além disso, toda a movimentação em torno de sua candidatura acabou enfraquecendo a possibilidade de eleição de qualquer candidato que represente a unidade da esquerda ao Senado Federal, o que é lamentável. Na negociação, o PT terá que abrir mão da candidatura de Reginaldo Lopes ao Senado para apoiar a reeleição do senador Alexandre da Silveira (PSD), substituto do ex-senador Antonio Anastasia, relator do golpe no Senado. Quem ficou de fora do arranjo foi o atual presidente da ALMG, que estava confirmado na chapa com Kalil e teve que abrir mão da candidatura.

Nesse cenário, é fundamental que nós consigamos posicionar a esquerda em Minas com um projeto de unidade nos próximos pleitos. O PSOL conta com duas mulheres de luta na disputa ao governo do Estado e ao Senado. Faremos o debate com a população e apresentaremos nossas ideias ao pleito. Na eleição presidencial, estaremos com Lula, pois sabemos da responsabilidade histórica que temos nas mãos de derrotar o fascismo e fazer o Brasil sonhar outra vez.

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