Bella Gonçalves

‘Somos escravos do custo de vida’

A frase de Carolina Maria de Jesus não poderia ser mais atual

Por Bella Gonçalves
Publicado em 31 de março de 2022 | 11:37
 
 
 
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Inflação deixou de ser coisa pra economista. Basta dar um pulinho diariamente ao supermercado para ver o quão rápida é a mudança no custo de vida, principalmente quando se trata dos alimentos. Parece até que voltamos aos anos 90, quando as máquinas que mais trabalhavam no Brasil eram as remarcadoras de preços.

Em 12 meses, as famílias de menor renda experimentaram uma inflação acumulada de 10,9%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os principais vilões foram os combustíveis e os alimentos. Em 2021, a gasolina ficou mais de 46% mais cara, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Já em relação aos alimentos, foram 8,6% de aumento no preço das carnes, 19,6% das aves e ovos, 43,8% do açúcar e 61,2% do café; só pra mencionar alguns itens. Sem falar na variação dos preços dos aluguéis, que chegou aos 17,78% em 2021.

Isso, somado ao desemprego que atinge mais de 13 milhões de pessoas, faz com que muitas famílias brasileiras tenham tido dificuldades para morar e colocar comida no prato. Por isso, também temos assistido ao crescimento vertiginoso da população em situação de rua. São Paulo, a maior cidade do país, viu esse grupo aumentar cerca de 31% em apenas dois anos. Uma pesquisa feita pelo Programa Polos de Cidadania, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostra que a população de rua em Belo Horizonte registrou um pico de 8.901 pessoas sem um teto para morar em abril de 2021.

Mas a fome não é um fenômeno natural que acontece de quando em quando. Ela é a consequência da desigualdade econômica, intrinsecamente ligada ao modo de reprodução da vida no capitalismo. Aprofundá-la ou mitigá-la é, portanto, uma decisão política de quem nos governa e está orientada a favorecer uma classe social em detrimento de outra.

Vejamos o exemplo dos combustíveis: o governo de um país autossuficiente em produção de petróleo decide que, a partir de agora, os valores da gasolina, do álcool e do óleo diesel serão calculados de acordo com os preços praticados no mercado internacional, em dólares. Essa política antipovo foi inaugurada pelo ex-presidente da Petrobras Pedro Parente, nomeado pelo golpista Michel Temer. Ele mesmo enchia a boca para dizer que havia “acabado a influência política na empresa”. Ora, só se for a influência do povo e dos trabalhadores petroleiros! A direção da estatal, desde o golpe de 2016, esteve orientada politicamente ao benefício de uns quantos acionistas, à revelia das necessidades da população. Basta olhar para o lucro recorde que a Petrobras teve em 2021, de mais de R$ 106 bilhões, distribuídos entre um grupo seleto de “investidores”, enquanto a população amarga preços exorbitantes na hora de encher o tanque.

Por isso, engana-se quem pensa que todos ficamos um pouco mais pobres depois de 2020. Há quem trate de culpar o vírus ou a guerra. Mas fato é que, em 2021, em plena pandemia, o Brasil ganhou 40 novos bilionários, enquanto jogou centenas de milhares à pobreza. E isso é o resultado da política econômica de Guedes e Bolsonaro: muito para poucos, pouco ou quase nada para as grandes maiorias.

Na semana passada, me reuni em São Paulo com o ex-presidente Lula e falei sobre a necessidade de revogar a PEC do Teto de Gastos – que só serviu para aprofundar as desigualdades –, assim como de retomar os programas sociais que ajudaram nosso país a sair do mapa da fome. Com a força do povo, vamos reconstruir o Brasil.

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