Cadu Doné

Bagunça. Organizada?

O ludopédio revela-se ardiloso; a linha, tênue: para um carrossel virar trem desgovernado, às vezes basta a mera carência de uma intangível liga.

Por Cadu Doné
Publicado em 23 de abril de 2021 | 03:00
 
 
 
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Bagunça. Organizada?

No imaginário do atleticano embebido por uma trajetória épica, um time que funcionava num mecanismo que exalava carisma, marcado por um magnetismo quase metafísico, tão especial que a bola aérea se mostrava só mais um adorno para o amplo repertório estético, a expressão “bagunça organizada” é gatilho para o regozijo numa nostalgia envolta num verniz digno de epopeia romântica. O artífice daquele escrete, Cuca, hoje com a hercúlea tarefa de corresponder rapidamente numa era cada vez mais imediatista, insensatamente exigente com equipes caras, segue fiel às suas convicções; ataque posicional? De jeito nenhum. “O bom futebol ancora-se na irrestrita movimentação, na incessante troca de setores”. Mas o ludopédio revela-se ardiloso; a linha, tênue: para um carrossel virar trem desgovernado, às vezes basta a mera carência de uma intangível liga.

 

Forma certa?

Esqueçamos as tecnicalidades. Obsessão pela posse? A “gorduchinha” que gira? O atleta, com estoica disciplina, há de esperar seu instrumento de trabalho chegar sem abandonar seu quadrado? Ou as peças devem descambar para um balé fulguroso, pós-moderno, desfilando por todo o campo com sincronia apenas aparentemente atabalhoada? Não existe forma correta de atuar. O trabalho do técnico não ancora-se na adoção do estilo que no momento cai nas graças de uma imprensa tão superficial quanto fadada a regurgitação de clichês. Num esporte ferrenhamente enlaçado ao acaso, o papel do treinador consiste em dirimir a chance de resolução pelo aleatório.  

 

Ataque perdido

Independentemente do modo de agredir escolhido, se por meio de um fetiche pelo passe, ou na ânsia por uma verticalidade capaz de surpreender, o todo precisa apresentar determinada consciência, razoável consistência; firmeza que esparge a confiança de quem sabe o que está realizando. Na quarta, conforme tem predominado no “Cuca resurrection 2 – desta vez é mais difícil”, o Galo, na fase ofensiva, ostentava comovente apego ao casual. Toca para o lado, lança na confusão, e seja o que Deus quiser! 

 

O ponta direita

A briga pela titularidade na direita ressoava promissora. Cardápio farto, típico de um plantel polpudo, endinheirado – pelo jeito que se cobra irracionalmente, uma espécie de fardo. Em Savarino, velocidade, drible; no “incrível” (?) Hulk, força, finalização, o impactante passado de seleção. Gosto de ambos; não sei qual anda pior. Mistérios da mais apaixonante das modalidades... Como Vargas perde gols em doses cavalares, testaria o venezuelano pela beirada e o super-herói no labor de “9”. 

 

Defesa que todos passam

Moldar ataques minimamente automatizados, portadores de alguma sincronia nas ações, demonstra-se parte difícil das obrigações de um comandante. Defender com ínfima segurança, negando espaços ao inimigo num patamar interessante: tarefa que mesmo os estrategistas limitados conseguem executar. Nem isso o Atlético esbanjou na Venezuela. Conjunto não performando como tal, amplamente desajustado também no instante de combater. Latifúndios para o adversário transitar.

 

Omissão?

Nacho não fez jus ao prêmio de melhor em campo da Conmebol. Errou além da conta. Nunca peca, porém, pela omissão. Não esconde.

 

Titular

Quem merece sair: Allan, Tchê Tchê, ou ambos? Quanto a isso, dúvidas. Que Cuca não dificulte: Zaracho titular para ontem.  

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