CADU DONÉ

Coragem para falar a verdade

Entre músicas e movimentos, Inglaterra chega à final em pênalti inventado


Publicado em 09 de julho de 2021 | 06:00
 
 
 
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Noel Gallagher tem sido uma das cabeças mais clarividentes ao escancarar o fúnebre cenário atual em que a humanidade anda se metendo sem olhar para trás, sendo particularmente corajoso, incisivo, charmoso, e ponderado, para descascar o nefasto universo da Internet e das redes sociais, apontar os dilemas acerca do Brexit – que trará, entre outras coisas, se algo não for mudado, obstáculos intransponíveis para a monetização de turnês, o que carrega potencial de inviabilizar carreiras de artistas de pequeno e médio portes –, e a insensatez espargida pelos excessos atrelados a um culto altamente delirante da ideologia “Woke”. Para quem quer bafejar-se com os sopros de originalidade da mente responsável pelo Oasis, com o afiamento de uma wit quase inigualável, vale conferir a entrevista que ele concedeu para a “Absolute Radio”, recentemente.

Saudosismo

Para Noel – ele emitiu essa opinião com destreza notável no programa acima indicado –, os anos 90 foram a última grande década da música – de soslaio, dá para sacar que ele enxerga este período de forma similar em todos os aspectos; em ambas as frentes da retórica do gênio por trás de “Bring It On Down”, concordo com ele. Sim, o futebol também era mais legal. Um dos motivos especiais que combustaram os anos 90 a tirar o cool, o indie de pequenos guetos iniciados, e introjetá-los, sem escalas, no topo das paradas, foi o Britpop – movimento que, como talvez nenhum outro, amarrou, de modo intricado, os mundos das artes com o do esporte bretão.

Sinfonia agridoce

O auge do Britpop se deu entre 1994 – estouro do “Definitely Maybe”, primeiro e melhor álbum do Oasis –, e 1996 – quando os Gallagher fizeram seus seminais shows em Knebworth. Dá para dizer, todavia, que o movimento continuou com força considerável por mais tempo. Em 1997, o genial The Verve finalmente abocanhou sucesso comercial. A canção “Bitter Sweet Symphony” se tornou um dos grandes hinos da história do rock britânico, e normalmente é inserida, em algum grau, dentro do escopo do Britpop.

Sucesso ou vergonha?

Acompanhando o triunfo de um English Team longe de merecer a alcunha de convincente, flertando com os fantasmas da instabilidade mental onipresente em quase todas as decisões recentes, e por vezes engolido pela atmosfera que exalava tensão, também fui desmilinguindo no sofá. Ser supostamente salvo por um cristalino e absurdo erro da arbitragem, para qualquer um que não deixa o pendor para a ética e a justiça em casa quando um equívoco beneficia seu time, para mim, não gera real redenção.

Hipocrisia

Na pior das hipóteses, para quem queria a trupe de Southgate na final, e não contempla o “vencer a qualquer preço” em consonância com a podridão geral do futebol, reinaram, no âmago, sensações agridoces, das quais falava Richard Ashcroft. Para o país que mais condena o “cai cai”, o diving, as camadas de complexidade, os dilemas existenciais, aumentam. Pelo United, CR7 fora vaiado em todos os campos inimigos na Inglaterra – por tentar ludibriar juízes em demasia.

Ironia

Linha tênue: o VAR europeu é elogiado, em geral, com razão, por não pecar pelo intervencionismo. Se abster do óbvio, porém...

Repercussão

Mesmo no seio da parte boa da mídia britânica, o contorcionismo retórico para legitimar o injustificável anda correndo solto.

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