Cadu Doné

Cuca e Guardiola

Por mais que seja admirador confesso do técnico atleticano, não cometerei o disparate de compará-lo com o melhor de todos os tempos

Por Cadu Doné
Publicado em 06 de maio de 2021 | 18:09
 
 
 
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Cuca e Guardiola

Não, raros leitores; por mais que seja admirador confesso do técnico atleticano, não cometerei o disparate de compará-lo com o melhor de todos os tempos. Fazê-lo seria um absurdo não por demérito do brasileiro; não há treinador no planeta capaz de entrar na mesma frase que o catalão. Os paralelos que se seguirão se restringem a aspectos específicos atrelados a ideias de jogo e declarações pontuais. Após a goleada sobre o Cerro, Cuca, numa louvável demonstração de transparência, reconheceu que não carrega obsessão pela posse; para ele, recuperar a bola e surpreender o adversário numa transição rápida seria mais eficiente: afinal, desta maneira, encontraria o oponente com a retaguarda desarrumada – enquanto no modelo propositivo, o inimigo teria tempo para montar sua marcação na medida em que passes incessantes iam se materializando.

A melhor defesa...

No início de sua trajetória como comandante do Barcelona, um dos argumentos que Guardiola utilizava para referendar sua quase patológica predileção pela posse ancorava-se, ao contrário do imaginado, no lado defensivo da coisa. A lógica era simples: se eu estou com a bola, na pior das hipóteses, não sofro com ataques do meu antagonista. No futebol, filosofias opostas se provam válidas – virou um daqueles lugares-comuns chatos da imprensa esportiva, mas este pelo menos é verdadeiro: não existe receita de bolo; pode-se triunfar por caminhos diferentes. Curioso comparar as duas declarações: ambas fazem sentido, revelam alto poder de persuasão.
 
Pacote completo

Elucubrações acerca de estratégias e guardiolismo ganharam, definitivamente, na última terça, novo capítulo; o momento emblemático de um ponto de virada: para terror dos idiotas da objetividade unidimensionais, que regurgitam por aí que apenas o controle adquirido pela imposição com a posse representaria sofisticação, o mais genial dos pensadores do ludopédio venceu, em larga medida, apostando no contragolpe. O que adveio no Etihad deu um nó em cabeças maniqueístas, que buscam respostas fáceis.  

Ferrolho?

Diante do PSG, o City não se limitou a esperar o rival. Nem querendo desvelar a fartura do seu cardápio, Guardiola abandonaria a especialidade da casa. Os ingleses apresentaram, em alguns momentos, uma marcação alta; em certos recortes da partida, notamos a entranhada destreza para rodar a bola. A questão é que, em meio a estes rompantes de um guardiolismo raiz, encontramos os Citizens reinventados; sem constrangimento para baixar seus blocos na fase defensiva e escapar em velocidade. 

Temporada diferente

Esta flexibilidade maior para abraçar estilos diversos já vinha acontecendo no City ao longo de toda a atual temporada. Terça talvez tenha sido somente o ápice, o momento mais simbólico disso. A capacidade para executar outras formas de atuar agrega ao currículo de Guardiola; o título inglês pode vir amanhã, e sobretudo se faturar a Champions, este período ficará marcado pelo seguinte: o catalão não só venceu pela enésima vez; o fez de um jeito diferente.

Redenção

Com liberdade para atacar, e mais adiantado também na fase defensiva, Tchê Tchê foi um dos destaques da vitória sobre o Cerro.

Bruno José

Não apenas pelo passe para o gol de Sóbis; Bruno José, no último domingo, deu ótimas arrancadas, sendo um dos melhores em campo.  

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