Cadu Doné

Neymar: a imprensa não aprende nada

Neymar declarou que a Copa de 2022 deve ser sua última. Sempre se mostrou comum jogadores fazendo projeções e, ao longo de suas trajetórias, mudarem de ideia

Por Cadu Doné
Publicado em 13 de outubro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Neymar declarou que a Copa do ano que vem deve ser sua última. Sempre se mostrou comum jogadores fazendo projeções acerca do fim de suas respectivas carreiras e, ao longo de suas trajetórias, mudarem de ideia. Nenhum problema, claro. Romário afirmou que pararia com 28 – exata idade em que venceu a Copa e foi o melhor do planeta. Depois estendeu sua maravilhosa caminhada até a casa dos 40, tendo sido artilheiro do Brasileirão já na parte final de sua vida nos campos – antes de certo estágio atingido por Messi, Romário era o jogador que acompanhei ao vivo de quem mais gostava. Hoje está em segundo. E hoje, enquanto senador, após início razoavelmente tão promissor quanto surpreendente, consolida sua já longeva mediocridade e compartilha sua benevolência com o bolsonarismo. Segundo ele, o país com Lula estava horrível. Bom está agora.

Messi e Pelé

Tévez alardeou que pararia cedo. Foi atualizando expectativas, sempre em tom de despedida, bradando que o fim estava próximo. Atualmente com 37 anos e sem clube desde que deixou o Boca, em junho, nosso “hermano” não anunciou sua aposentadoria e avalia propostas. Em 2016, após derrota na final da Copa América para o Chile com direito a perda de pênalti, Messi, talvez pelo calor pós-jogo, decretou que não atuaria mais pela seleção. Graças a Deus – ou seja, ao próprio –, não o fez. Pelé, em 1966, quando foi caçado vergonhosamente na Copa por adversários, disse que não disputaria o Mundial de 70. Graças a Deus – ou ao próprio –, mudou de ideia.  

Adriano imperador

Poderia seguir listando humanos – e deuses – que deixaram planos de pendurar as chuteiras – pela seleção ou em geral – precocemente. Contemplando a segunda categoria, Maradona, caso cumprisse suas previsões, não teria testado positivo para o doping nos EUA. Adriano não atingiu a divindade, mas foi rei de Milão. Seu adeus ao escrete canarinho ocorreu bem antes do que gostaríamos. A esmagadora maioria da imprensa esportiva, já retrógrada e caçadora de cliques antes de a internet nascer, julgou.  

Arrependimento

Numa era menos tosca na absorção das doenças mentais, inclusive no esporte, se faz justo revisionismo com relação a Adriano. O apedrejamento, advindo num passado recente, se desnudava cristalinamente cruel na época. Antes tarde do que nunca. Aprender com os erros... Comunicadores esportivos – alguns demagogos que usam seus veículos para cultivar jabuticaba (abocanhar cargos públicos enquanto se mantêm “jornalistas”) –, com pouca pesquisa, minguada sabedoria e pregando para convertidos...

Populismo

É muito mais difícil acordar às quatro e dormir meia-noite, pegar três ônibus e não ter dinheiro para comer do que jogar futebol para trilhões. Nada é mais fácil do que ganhar para comentar futebol – ou fazê-lo e ser deputado, simultaneamente. Mas troçar quando se diz que “é difícil ser Neymar” supera a ignorância. É difícil ser humano. É difícil ser gente. É difícil não julgar – ainda assim... Neymar saiu da pobreza por ser gênio no que faz, por circunstâncias...

Pressão

Nem entrei no mérito dos 20 anos nos quais Neymar lida com pressão descomunal e milhões de críticas injustas. Humanidade doente.

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