Difícil de imaginar trajetória tão minuciosamente bela, perfeita, como a de Victor no Atlético. Unir qualidade técnica, caráter irreparável, simpatia acima de qualquer suspeita, e inteligência ímpar, com um impacto concreto quase inverossímil caso fosse edificado na literatura, é algo tão raro que se mostra, sim, digno da associação à santidade. Por uma dessas incríveis coincidências que a vida nos proporciona, posso dizer que tive o privilégio de comentar Galo e Tijuana em 2013 – um dos momentos mais memoráveis que já vivenciei –, e de testemunhar a despedida do maior goleiro da história atleticana na minha estreia em uma jornada esportiva pela rádio Super 91,7 FM. Parabéns, São Victor! E, acima de tudo, muito obrigado!

Geração de 2013

Muitos torcedores e jornalistas têm a tendência de eleger Ronaldinho Gaúcho como o grande nome do Atlético em todos os tempos. Sem tirar uma migalha da reverência ao Bruxo, que fez história na Cidade do Galo, ainda considero Reinaldo o maior jogador que passou pelo clube alvinegro, e posicionaria Victor em segundo lugar – logo, como o mais relevante representante da “geração Libertadores”. 

Fora a consistência, a fidelidade, a aura de liderança positiva em simplesmente todas as esferas possíveis, vejo no goleiro do pé esquerdo abençoado uma participação mais decisiva, mais consistente do que a de qualquer outro atleta no mais nobre título já conquistado pelo clube alvinegro.

O camisa 1 foi fundamental para o time levantar a taça da Libertadores, não só pela grande defesa realizada contra o Tijuana, mas pelo fato de aquele lance ter sido o combustível extra que faltava para completar a sinergia entre torcida e o time até a conquista épica.

Técnico de 2013?

O nome de Cuca ganha força como possível novo técnico do Atlético. Para mim, uma excelente opção. E, ao contrário do estereótipo que boa parte da imprensa gosta de espalhar, também por qualidades de ordem tática, o comandante da épica conquista de 2013 não faz jus à imagem de treinador pouco sofisticado. Em sua já longa – e bonita – caminhada montou equipes vencedoras e convincentes com estilos bem díspares.

Estreia celeste

Resultado à parte, permaneço com uma mistura de sentimentos com relação à estreia do Cruzeiro: entre a percepção de que o placar fora injusto pela superioridade da Raposa, e a impressão de que o Uberlândia é rival que não oferece parâmetros para uma avaliação. Ressaltemos, também, os deslizes na hora dos arremates: o clube não pode se dar a esse luxo em jogos mais difíceis.

Azar dos rótulos

Frequentemente nota-se, no esporte, a imposição de argumentos estritamente baseados em números, representações – títulos, por exemplo –, para selecionar os principais nomes de uma conquista, uma agremiação. O intangível, o pouco palpável, sobretudo depois de longo período, parece mais difícil de sustentar. Mas futebol não é matemática, não é ciência exata; tampouco limita-se à leitura fria de um inventário dos feitos perpetrados. Reinaldo não abocanhou um “grande título”? Azar dos “grandes títulos”...

Ignorância

As aglomerações motivadas pelo futebol são atestados tão óbvios quanto indeléveis de que a humanidade deu errado.

Contraste

Guardiola segue se firmando como o melhor da história; Solskjaer, no United, exala a noção de que é comum demais para o cargo.