Cadu Doné

Vitória enganosa

Os defeitos da Raposa passam pela fraqueza do elenco e pela dificuldade do treinador de edificar uma equipe que funcione enquanto tal, na acepção da palavra

Por Cadu Doné
Publicado em 04 de junho de 2021 | 03:00
 
 
 
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O primeiro tempo do Cruzeiro nesta quinta (3), na vitória sobre a Juazeirense, foi assustador. Abaixo da crítica. Constrangedor. Em tese, a ideia de Felipe Conceição ao sacar Matheus Barbosa e escalar Rafael Sóbis, mais recuado, como construtor, parecia uma boa. Na prática, o conjunto não se tornou criativo, ofensivo. Não creio que seja o caso de desistir do novo esquema; o buraco é mais embaixo: os defeitos da Raposa passam pela fraqueza do elenco e pela dificuldade do treinador de edificar uma equipe que funcione enquanto tal, na acepção da palavra. Trocando em miúdos: os entraves vão muito além do sistema. Dinâmica, compactação, capacidade para pressionar o oponente com consistência; não lembro de um cotejo em que o esquadrão cinco estrelas tenha conseguido exibir estas qualidades. Invariavelmente, a posse se prova inócua, amplamente enganosa.

Problemas variados

Durante a maior parte do magro triunfo arduamente obtido com gol de Bruno José, o time celeste desagradou nas duas pontas: burocrata para atacar e lento nas transições defensivas – o adversário chegou a incomodar frequentemente nos contragolpes. Matheus Neris atuou na função usualmente exercida por Adriano; como primeiro volante, recuava para fazer uma saída de três ladeado pelos dois zagueiros. Um latifúndio se abria entre este trio e o chamado terço final. A bola não transitava pelo meio-campo. Não havia aproximação, dinâmica, agilidade. O escrete azul padecia moroso, se restringia a trocas de passes infrutíferos na sua própria retaguarda.

Papo furado

Tornou-se corriqueira, no mundo do futebol – imprensa, atletas, técnicos... –, a ideia de que a simples vantagem numérica na posse de bola necessariamente indica controle das ações e qualidade de performance. “Tigrão” anda previsível nas suas arengas pós-jogo: tapa o sol com a peneira tergiversando através de estatísticas pouco representativas. Na metade inicial do duelo da última quinta, os mineiros saíram no lucro com o empate; os baianos tiveram as melhores oportunidades antes do intervalo.

Se salvando

Em meio a tanta notícia ruim, um alento: Bissoli deixou impressões favoráveis nas duas pelejas mais recentes. Pelo rendimento num passado nada longínquo, pela experiência que exala, Sóbis se destaca no modesto elenco que integra. Por outro lado, em determinados momentos, no labor de 'falso 9’, gera a sensação de não fornecer profundidade ao todo. O ex-Furacão, apesar de sair bastante da área inimiga, até por questões físicas, concede certa presença para brigar com os beques dos rivais.

Cão de guarda

Adriano e Neris vêm de jornadas infelizes. Flávio provavelmente ganhará espaço em breve. Pelo América, o jovem “camisa 5” colheu elogios nas ocasiões em que recebeu chances. Paira generosa dose de ceticismo quanto sua contratação pelo fato de a amostragem dele entre os titulares pelo Coelho ser reduzida. Não por demérito. Zé Ricardo é titular do alviverde de BH há várias temporadas. Ainda assim, natural a pergunta: se não serviu para Lisca, resolverá na Toca?

Talento

O Cruzeiro precisa de talento do meio para frente. Se a solução viria com um “10”, um ponta driblador... Não há ciência exata.

Imprevisto

A zaga não ressoava como um dos obstáculos centrais da Raposa. Ledo engano: Ramon e Weverton andam em marés preocupantes.  

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