De um dia para o outro, Fred deixou de ser o “terror” e virou o “cone” para a torcida do Galo. Assim como deixou de ser um jogador em fim de carreira para ser um troféu para os cruzeirenses.
O atacante de 34 anos encarou esta turbulência que é a relação de amor e ódio entre os dois maiores lados do Estado de Minas Gerais.
Mais do que encarar este terreno movediço, Fred se posicionou: “volto ao meu time do coração”.
O jogador de futebol tem todo o direito, e acredito ser até salutar, ter um time do coração. Não dá para você apagar toda a relação de amor e toda a construção de uma identidade que acompanhar um clube de futebol te traz.
A escolha das cores do seu time, os cantos da torcida na arquibancada e o encontro com um ídolo de meiões e chuteiras moldam o caráter de quem ama futebol. Não tenho dúvidas disso.
E Fred tem todo o direito do mundo de ter crescido vestindo azul, cantando as músicas da torcida organizada do time e de ter nomes como Ronaldo e Paulinho McLaren como ídolos.
Deletando o Galo. No entanto, o novo atacante do Cruzeiro desliza ao tentar, a todo custo, apagar de sua história a passagem que teve pelo Atlético. Vou além. Se o desejo maior seria realmente encerrar a carreira na Toca da Raposa, Fred deveria ter recusado a proposta do Galo em 2016, quando também chegou sorrindo depois de passagem marcante pelo Fluminense.
Fred deveria ter dito “não” ao Galo em favor daquele Fred que ainda amava o Cruzeiro e também em favor de todos os meninos que estão criando vínculo de identidade com um clube.
Se amava tanto a Raposa, o atacante deve desculpas ao Fred de 9 anos de idade, que não gostaria nunca de ter vestido a camisa alvinegra. É preciso se desculpar também pelos gols que fez no Cruzeiro vestindo a camisa preta e branca.
Um recado. Amar um clube de futebol é coisa séria. O jogador que optar por ser profissional faz esta peregrinação de rivais em rivais sem dores, sem apagar fotos no Instagram, sem um rompimento de caso amoroso.
No entanto, o atleta que diz que ama é preciso lembrar que, no futebol, a paixão conta muito alto. Que a traição não é perdoada. E que se o amor não for correspondido como outrora, haverá sempre a imagem do ex para atazanar.
Vai ter que jogar. Fred escolheu o lado da paixão. E vai ter que jogar muita bola para provar que é tão bom quanto foi há 12 anos. Que aprendeu muito e que ajudar o Cruzeiro a alcançar algo que não vem há mais de 20 anos: o título da Libertadores.
Se alguma coisa falhar, o atacante deve saber também que haverá um ex para tirar o seu sono e um bando de apaixonados que lembram muito bem o que foi prometido e que não foi entregue.
Capacidade técnica e faro de gol, Fred tem para encarar mais este desafio. Vamos ver se, aos 34 anos, ainda tem fôlego para provar que valerá os R$ 10 milhões da multa que o Cruzeiro pode ter que pagar ao Atlético.
Em 2018, vamos ver muitos capítulos desta história de amor.