Christopher Mendonça

A preparação para as eleições

Convenções são tão importantes quanto o próprio pleito

Por Christopher Mendonça
Publicado em 06 de agosto de 2022 | 08:00
 
 
 
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Acabou o período de convenções partidárias. Os resultados das alianças e os movimentos de apoios neste momento são muito importantes para subsidiar as análises no decorrer do ano. A preparação do pleito é tão importante quanto a própria campanha porque envolve conexões partidárias que definem a disponibilidade de recursos e o tempo de televisão especialmente aos candidatos a cargos majoritários como é o caso dos postulantes a presidente da República.

Embora tivesse desejado uma frente ampla, com partidos para além do espectro da esquerda, o ex-presidente Lula não alcançou plenamente o seu objetivo. Além do PT, conseguiu o apoio do PV, do PCdoB, do Solidariedade, da Rede, do PSOL e de setores minoritários do MDB. Estará ao lado de Lula nas eleições o PSB, partido de seu vice. 

Nos últimos dias o ex-presidente se fortaleceu ainda com a desistência de André Janones à corrida presidencial. O deputado do Avante de Minas Gerais tem causas ligadas à esquerda e foi filiado anteriormente ao PT. Em reunião realizada em São Paulo, Janones anunciou em suas redes sociais que comporia o campo político de Lula retornando à disputa pela reeleição ao cargo de deputado federal.

Bolsonaro também fez os seus movimentos exitosos. Agregou sob sua candidatura partidos de grande capilaridade nacional como o Progressistas e o Republicanos, além de manter força total em sua própria agremiação, o PL, que também hospeda o candidato a vice nesta chapa, o general Braga Netto.

O presidente conseguiu abrir dissidências volumosas em diversos partidos impedindo que eles viessem a apoiar o seu principal adversário. Há alas no MDB que apoiam declaradamente a candidatura de Bolsonaro no primeiro turno bem como setores do União Brasil. No PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab, há uma fração considerável de correligionários que admitem apoio ao presidente. A conjunção de forças em torno da reeleição presidencial conseguiu alavancar palanques importantes em todos os Estados da Federação, incluindo no Nordeste, onde a popularidade de Bolsonaro vem melhorando nos últimos levantamentos.

Em Minas Gerais e São Paulo, maiores colégios eleitorais do país, a campanha de Bolsonaro terá espaço. Carlos Viana e Cleitinho Azevedo darão palanque ao presidente entre os mineiros e Tarcísio de Freitas e Marcos Pontes entre os paulistas.

Ainda sem o início formal da campanha – que está liberada a partir do dia 15 de agosto – há, também, erros dramáticos nas duas campanhas principais. Os petistas erram ao subestimar o seu adversário tal como fizeram em 2018. Embora as pesquisas indiquem Lula como favorito, não é incomum nas democracias que os cenários eleitorais mudem.

Recentes levantamentos já demonstram uma melhora nos números de intenção de voto relacionados ao presidente. A diferença está caindo, e as chances de vitória em primeiro turno são baixas especialmente a partir do dia 9 de agosto quando os auxílios sociais começam a chegar nas casas dos brasileiros. O quadro econômico também tem melhorado e tende a beneficiar o candidato oficial.

Do lado de Bolsonaro os erros são claros: a insistência em não verbalizar o seu compromisso com a democracia prejudica a imagem do candidato. Em certos momentos amar não é suficiente; é preciso declarar tal sentimento. A meu ver a adesão do presidente a todos os manifestos em favor da democracia seria uma estratégia positiva para a sua candidatura, diminuindo as especulações acerca de um improvável golpe de Estado.

A tentativa de trazer descrédito às pesquisas eleitorais também apresenta-se como uma falha da militância bolsonarista. Pesquisas são apenas tendências que não têm – ou não deveriam ter – ambições de se apresentar como resultados cravados. Como dito anteriormente, as intenções de voto podem mudar. Inclusive aqueles que respondem que tendem a não mudar o seu voto podem refazer o seu pensamento sem aviso prévio.

O jogo mais pesado da eleição começa a ser realizado nas próximas semanas – e insisto em defender, contrariando muitos de meus colegas analistas políticos, que há muitas incertezas sobre quem será o presidente do Brasil a partir de 2023. 

 

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