O mundo tem vivenciado um momento de grande instabilidade de segurança no Oriente Médio. A história dos povos judeus e palestinos já havia sido marcada por episódios de grande repercussão internacional referentes às hostilidades entre ambos. Todavia, desde 1973 na Guerra do Yom Kippur, não observava-se um nível tão profundo de rivalidade entre os dois lados, gerando impactos para toda a comunidade internacional.

No dia 7 de outubro deste ano, o grupo extremista Hamas empreendeu uma ofensiva altamente destrutiva contra Israel. Ataques aéreos, utilizando mísseis e foguetes, incursões terrestres com tomada de reféns e o assassinato de centenas de pessoas, e também ações marítimas a partir do Mediterrâneo foram vistas como uma séria afronta aos israelenses.

Sabidamente o contra-ataque seria muito poderoso. Israel é um dos países com maior capacidade bélica no Oriente Médio, e a Faixa de Gaza passou a ser o alvo prioritário das Forças Armadas do país.

Desde os primeiros dias de guerra, o premiê israelense Benjamin Netanyahu já anunciava que faria uma incursão terrestre à Gaza para o alcance preciso das instalações do grupo que confirmava a autoria dos atentados contra Israel. Anúncios sequentes de retirada dos palestinos da Faixa de Gaza produziram uma grande migração de pessoas para as áreas próximas à fronteira com o Egito. A passagem de Rafah se tornou o único ponto de entrada e saída de pessoas e de itens básicos para os civis no local de maior incidência de ataques pelas forças de Israel.

Nos últimos dias, entretanto, o quadro foi ainda mais aprofundado. Depois de sequenciados ataques aéreos que destruíram uma importante porção da Faixa de Gaza, as tropas israelenses foram autorizadas pelo seu comandante em chefe a ocuparem o território onde concentram-se os inimigos. 

Blindados de grandes dimensões foram observados dentro da Faixa de Gaza executando o planejamento tático que a comunidade internacional, especialmente por meio da ONU, tentou evitar.

Em Nova York, os países se reuniram em diversas ocasiões na tentativa de construir um texto minimamente razoável que fizesse coincidir os interesses das principais potências mundiais. O esforço do Brasil como ocupante da presidência do Conselho de Segurança foi insuficiente diante dos vetos proferidos pelos países com assento permanente naquela estrutura institucional.

As imagens vindas do campo de batalha são catastróficas. Centenas de civis sendo mortos, infraestruturas sensíveis sendo atingidas e as bases do direito humanitário clamando pela sua sustentação em um ambiente de tamanha degradação. 

O Conselho de Segurança passa hoje a ser presidido pela China, e o primeiro-ministro de Israel insiste em não concordar com nenhuma proposta de cessar-fogo. Com base no artigo 51 da Carta das Nações Unidas, a diplomacia israelense defende o pleno direito de defesa do país frente aos ataques contínuos do Hamas. Na fronteira norte de Israel, o envolvimento do Hezbollah apresenta-se como uma possibilidade altamente perigosa.

Em todo o mundo milhares de pessoas expressam a sua insatisfação com o conflito. De um lado há quem defenda a legitimidade de Israel em lutar duramente contra os terroristas que executaram atentados graves contra a sua população. Do outro lado há quem misture a ação do Hamas com a defesa dos povos palestinos pela criação do seu próprio Estado. Pelo que tudo indica o confronto levará bastante tempo até ser solucionado. 

As organizações internacionais observam de forma estática um mundo em plena execução da guerra sem grandes formas de agir em favor da paz. Com muito pesar, veremos uma quantidade grande de sangue escorrendo pelos territórios sagrados do Oriente Médio.

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Christopher Mendonça é doutor em ciência política e professor de relações internacionais do Ibmec-BH