O questionamento que intitula o presente artigo tem sido apresentado a vários pesquisadores de relações internacionais nos últimos meses. Em um momento no qual há enfrentamentos severos entre russos e ucranianos no leste da Europa e entre o Hamas e o Estado de Israel no Oriente Médio, é natural que nos questionemos se estamos no caminho certo e se a ONU é um mecanismo eficiente para esse contexto.

Criada em 1945 pela Carta de São Francisco, o sistema organizacional das Nações Unidas já passou por momentos importantes da nossa história contemporânea. No presente século, o Conselho de Segurança da ONU foi consultado em ocasiões como em 2001, quando os Estados Unidos foram atacados por um grupo terrorista, e em 2003, em que, diante de uma possível ameaça de uso de armas nucleares, o presidente Bush solicitou a autorização do Conselho para atuar no Iraque.

Estamos falando de um sistema complexo, com interesses diversos e com representações muito variadas. Participam da ONU países pobres e ricos, democracias e autocracias, representantes de culturas e religiões diversas. Concentrar os interesses de quase duzentos países em documentos formais não é uma tarefa comum. Em meio à guerra, esse esforço torna-se ainda maior. 

Tomar decisões diante das cenas de destruição e de mortes que invadem as nossas casas de forma sistemática não pode ser classificado como um ato fútil. Não há quem deseje a guerra. O problema está em como solucionar tantos conflitos que envolvem as identidades dos povos e a história das nações.

A ONU é importante pois, por meio dela, torna-se possível identificar e buscar soluções para abusos legais e excessos humanitários. O multilateralismo é um caminho necessário para conectar as nações, mas é ingênuo atribuir a esse mecanismo a solução para todas as pendências identificadas nas relações internacionais. O Conselho de Segurança das Nações Unidas vive um momento de paralisia decisória. Não houve resolução sobre a guerra na Ucrânia, e o Conselho também não conseguiu firmar um entendimento sobre a ação internacional no Oriente Médio em guerra.

As regras que orientam o processo decisório na ONU concentram poderes adicionais aos países que venceram a Segunda Guerra Mundial. Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China dispõem de poder de veto no Conselho de Segurança, o que muitas vezes inviabiliza o consenso sobre os rumos da guerra. 

Nas últimas semanas, os encontros entre diplomatas de diversos países do mundo foram realizados no sentido de preservar a vida humana, especialmente a vida de civis injustamente envolvidos nos ataques entre as partes em conflito.

A crise humanitária transcende a capacidade da ONU, mas não há dúvidas de que, sem esse mecanismo de interlocução entre as nações, o quadro poderia ser ainda mais desastroso.

É natural a nossa sensação de incapacidade que muitas vezes se soma à ansiedade sadia de querer soluções imediatas a problemas tão devastadores. O consenso, no entanto, é construído a partir de processos, e a política internacional está em plena ação. As guerras não vão parar por agora: os cenários nos indicam uma durabilidade dos conflitos para além do nosso desejo. 

A ONU, mesmo com tantas dificuldades, ainda é um mecanismo que precisa ser utilizado e aperfeiçoado pelos países, especialmente em tempos de guerra.

Christopher Mendonça é doutor em ciência política e professor de relações internacionais do Ibmec-BH

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