Você já viveu no trânsito a experiência com um condutor que acelera, corta todos os carros que estão à sua frente e, simplesmente, em um semáforo qualquer, abandona a sua vontade de estar no primeiro lugar? Vivemos em Minas algo parecido. O atual presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, teve uma ascensão meteórica ao cargo que hoje ocupa. Entretanto, parece-me que evoluiu para estacionar.

Em 2018, no afã dos movimentos de reagrupamento político no Brasil, o então deputado federal não era um dos principais nomes na disputa pela cadeira mineira na Câmara Alta. Nomes de peso como o da ex-presidente da República Dilma Rousseff e do ex-presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Dinis Pinheiro, contavam com maior visibilidade em uma das mais difíceis disputas eleitorais de nosso Estado. 

O jovem advogado, conhecido do meio jurídico mineiro, estava completando o seu primeiro mandato parlamentar e não dispunha, naquele momento, de grande capital político.

Antes de se lançar como candidato a deputado federal, Rodrigo Pacheco havia ocupado posições na seccional mineira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), bem como em seu Conselho Federal. Não havia, entretanto, nenhuma experiência legislativa. Eleito deputado em 2014, chegou à presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e em 2016 disputou a eleição municipal de Belo Horizonte, ficando em terceiro lugar e declarando voto no candidato derrotado naquele pleito.

O deputado Rodrigo Pacheco alavancou a sua carreira apresentando-se como um político conservador. Votou a favor do impedimento de Dilma, foi um forte aliado do presidente Michel Temer em seu período de governo e votou majoritariamente com o governo de então. Mesmo sem conhecê-lo profundamente, os mineiros deram a Pacheco uma carta de confiança. Era preferível ter em Brasília alguém desconhecido e inexperiente a alguém que já tinha mostrado a sua dificuldade em governar o país.

A ideia inicial de Pacheco era deixar o cargo de deputado e lançar-se ao governo de Minas. O MDB, entretanto, preferiu não ter candidato próprio, e alas importantes do partido depositaram a sua confiança na candidatura de Fernando Pimentel, do PT. Crítico de tal decisão, Pacheco abandonou o partido e filiou-se ao DEM para ser lançado ao Senado.

Ficamos orgulhosos, em 2021, quando o senador Pacheco foi indicado, desta vez pelo PSD, para a presidência do Senado. Seria o retorno de Minas ao centro do poder nacional. A performance do senador mostrou-se, entretanto, muito aquém do que desejamos. 

Nos últimos meses a Suprema Corte colocou o Congresso no bolso: decidiu sobre drogas, sobre demarcação de terras indígenas, sobre contribuição aos sindicatos e está prestes a tratar da descriminalização do aborto. Frente ao pleno ativismo do STF, o representante máximo do Congresso fez silêncio.

Um homem que foi eleito pelo seu conservadorismo e pela sua atuação em desfavor do PT em Minas e no Brasil hoje se rende ao excesso de institucionalidade: cede espaço ao Judiciário, cede espaço ao Executivo e se contenta com aquilo que sobrar para o Poder com maior capacidade de representação da diversidade popular, que é o Legislativo. Não se sabe exatamente se a postura do senador se dá por interesse em compor a Suprema Corte, algo cada vez mais improvável, ou se o seu desejo é influenciar a escolha do seu sucessor. Fato é que Pacheco não responde com tanta atenção aos desejos dos mineiros. 

É importante dizer que o mandato de senador também acaba. Em breve Pacheco sairá do seu conforto e precisará olhar nos olhos da população e justificar a sua postura leniente em um momento no qual se demandou a sua melhor performance.

Christopher Mendonça é doutor em ciência política e professor de relações internacionais do Ibmec-BH

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