Sócio da BDO, membro do Conselho Federal de Contabilidade na elaboração das práticas contábeis para clubes de futebol, Carlos Aragaki, é um dos responsáveis pela elaboração do Fair Play Financeiro, que será exigido dos clubes a partir de 2020.
Em apresentação na Semana de Evolução do Futebol, promovido pela CBF, em abril, Aragaki trouxe um diagnóstico dos demonstrativos dos clubes, destacando aquilo que é lançado equivocadamente, por falta de conhecimento do contador ou mesmo propositalmente, para maquiar os números.
Todos os clubes da Série A foram visitados em 2016 para a verificação das práticas contábeis. Em 2017, foi a vez dos clubes da Série B serem visitados. Nesse mesmo ano se verificou se os times da A já estavam adotando as normas sugeridas
Dos 20 clubes da Série A verificados, 13 (65%) tinham auditores registrados na Comissão de Valores Imobiliários (CVM) e, sete, não. Isso já dá uma noção da discrepância entre um clube e outro. Nesse trabalho da CBF, verificou-se descumprimentos das normas contábeis.
Veja quais são:
Alguns clubes buscam a reavaliação de ativos para aumentá-los e diminuir o déficit acumulado. Também é proibido contabilizar o valor da marca e colocá-lo como ativo, registrar o valor de venda de um atleta sem que ela tenha sido concluída e contabilizar todo o dinheiro de um direito de transmissão em um só ano, o que mascara as contas, já que o valor recebido se refere a um período de quarto ou cinco anos.
Outro erro é não contabilizar os custos de formação de atletas. Eles não são uma despesa, mas um investimento lançado como bem intangível, segundo Aragaki. Outro descumprimento é a ausência da divulgação do percentual dos direitos econômicos individual dos atletas. Os clubes, na verdade, não gostam de escancarar isso por causa da opinião pública mediante erros e acertos de um jogador contratado.
O Corinthians chegou a fazer isso na gestão do presidente Andrés Sanchez, divulgando cinco páginas de seu balanço no jornal Valor Econômico. Na ocasião, deu-se publicidade não apenas do percentual do clube, mas também do agente. Imagina a polêmica. Resultado: a prática durou apenas no primeiro ano e não se viu mais, segundo o especialista.
O Conselho Federal de Contabilidade acha importante a divulgação do percentual para seu associado, conselheiro e torcida e, por isso, virou uma norma obrigatória. Mas, hoje, a maioria dos clubes, não faz isso. As notas explicativas dos balanços também são um grande problema. Essas notas, muitas vezes, são mínimas e não explicam nada. Relatório de auditores desatualizados e ressalvas dos auditores são outros problemas.
Se já não bastasse esses equívocos, têm aparecido outros por causa do Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut). Surge uma contabilidade para se defender das regras punitivas do Profut. Os clubes não podem ter um déficit maior do que 10% de sua receita do ano anterior. E, em 2019, o déficit não pode ser maior que 5% das receitas.
Alguns clubes não trabalham para a geração de receitas ou diminuição de custos e despesas, mas trabalha para não ter um déficit acima dos 10%. Aí vale tudo. Se o clube vê que vai ultrapassar o limite do déficit, a dica de Aragaki é entrar em contato com a Autoridade Pública de Governança do Futebol (Apfut), responsável por fiscalizar o cumprimento do Profut. É possível que haja um prazo de 180 dias para regularizar a situação e pensar no futuro.
Em resumo, o trabalho em andamento consiste em ir ao clube, identificar os principais erros contábeis, propor a melhor prática e entregar ao clube o melhor modelo de demonstração financeira. Não se trata de atestar os números, ou uma auditoria de balanço dos clubes. O objetivo é orienta e facilitar a comparação de dados, até para uso do mercado.