A história do pensamento mostra que os intelectuais brasileiros se dedicam aos problemas do Brasil, enquanto os europeus abordam grandes temas da humanidade. De tempos em tempos, surgem exceções, como Eduardo Giannetti, que eleva nossa contribuição ao debate universal.

Com o livro “Imortalidades”, Giannetti une beleza literária à sólida base da história do pensamento e da reflexão filosófica, para tratar de assunto essencial à condição humana: a ideia de que a vida possa transcender sua curta duração biológica.

Em ensaios curtos, a obra é como um grande romance de ideias em torno da ânsia por imortalidade que caracteriza a única espécie com consciência da própria morte e que não se conforma com esse destino.

Giannetti retoma anotações acumuladas ao longo da vida. Investiga diversas formas de imortalidade que o ser humano busca incessantemente. Mergulha em mais de 150 obras de 116 autores, incluindo ele próprio, para pensar, especular, compreender e descrever como o desejo de permanência atravessa a história do pensamento, especialmente ocidental.

Giannetti passa por obras orientais e antigas, como o “Épico de Gilgamesh”, de 1.800 anos antes de Cristo, e textos de filósofos gregos, de 2.500 anos atrás. Todos com a mesma inquietação: o que havia antes de nós e o que virá depois. 

A ideia de continuidade após a morte foi talvez o gesto de maior arrogância do Homo sapiens: atribuir a cada um deles o privilégio que antes era reservado apenas aos deuses da mitologia clássica. Mesmo os mais materialistas encontram uma forma de sobrevida nos átomos do corpo, que, depois da morte, se dispersam no universo.

Costumamos dizer que no parto a mãe “dá a luz” ao filho, mas mais exato seria dizer que ela “dá o tempo”, seu primeiro minuto: a luz conquistamos ao longo da vida – sempre em busca de não morrer cedo e de transcender à morte.

Personagens literários que tentaram ultrapassar a fronteira entre a mortalidade dos homens e a imortalidade dos deuses foram punidos com vidas vazias e trabalho insano.

O livro “Imortalidades” é um belo e rigoroso estudo sobre a arrogância de querer ser imortal e a consequente tragédia de morrer pelo vazio existencial.

O Homo sapiens talvez seja resultado de um erro da evolução natural, ao criar um animal com racionalidade ilimitada, mas incapaz de controlar moralmente seu destino, inclusive de aceitar o destino de sua morte definitiva.

Felizmente, graças a filósofos existencialistas, é possível vislumbrar imortalidade em cada minuto de vida: “Cada minuto eterno enquanto dura”. 

Entre essas imortalidades transitórias estão leituras que nos inspiram e deslumbram, fazendo-nos imortais enquanto lemos: sentimento despertado pelo livro “Imortalidades”, de Eduardo Giannetti.