Cristovam Buarque

A Escola Brasil

Educação básica como prioridade central


Publicado em 11 de setembro de 2020 | 03:00
 
 
 
normal

No próximo ano, a Lei do Ventre Livre completa 150 anos e o Fundeb será incorporado à Constituição. A extinção do Fundeb teria sido uma catástrofe, mas sua continuidade não vai trazer a educação de qualidade que necessitamos, nem vai fazer com que as escolas sejam igualmente boas para todos. Da mesma maneira que, em 1871, a Lei do Ventre Livre libertou mas não emancipou os filhos dos escravos.

Precisamos implantar um Sistema Educacional Unificado Público com duas metas: ficarmos entre os dez melhores países em educação e eliminar a desigualdade na qualidade entre as escolas. Isso exige responsabilizar a nação pela educação das crianças brasileiras, com um ministério comprometido com a educação de base, que coordene a execução da estratégia da nacionalização.

Um caminho seria a “voucherização”, que consiste em repassar uma bolsa com o mesmo valor para cada criança, deixando para a sua família pagar a escola no mercado privado. Esse sistema pode servir em algum momento e lugar, mas não elevaria a qualidade do conjunto, nem diminuiria a desigualdade.

Outra possibilidade seria a “fundebização”, que consiste no “voucher coletivo” para o prefeito cuidar de suas escolas públicas. Embora melhor do que a “voucherização”, a “fundebização” não dará a qualidade e muito menos a igualdade, porque educação não se compra em loja, e nossos municípios são pobres não apenas em receita, também em recursos humanos e gerenciais.

O terceiro caminho seria pela “federalização”, que consistiria em um processo de substituição paulatina dos quase seis mil sistemas municipais por um robusto sistema nacional único, com carreira federal para professores, padrões equivalentes de construção e equipamento das escolas, todas com horário integral. Assegurando descentralização gerencial por escola e liberdade pedagógica para o professor, dentro da Base Nacional Comum Curricular.

Por esse sistema seria possível implantar Escolas Brasil nos municípios, da mesma forma que temos as agências do Banco do Brasil. A estratégia de implantação deste Sistema Educacional Unificado Público requer diversos anos e um investimento de R$15 mil por aluno ao ano. Se a economia crescer apenas 2% ao ano, em 20 anos o custo total para as 50 milhões de crianças será um pouco maior do que os quase 6% do PIB que são gastos atualmente.

Isso é possível e necessário. A maior dificuldade é formar uma consciência nacional que dê suporte à estratégia nacional de longo prazo e que aceite tratar a educação de base como a prioridade central com as duas metas: estarmos entre os países com melhor educação e não deixar um único cérebro desaproveitado por falta de escola com a máxima qualidade.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!