Opinião

Até acabar o racismo

A mesma escola para ricos, pobres, pretos e brancos


Publicado em 03 de dezembro de 2021 | 03:00
 
 
 
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Os 350 anos de escravidão no Brasil foram trágicos para a saúde econômica, social, política e cultural do país. Somos uma nação formada, forjada e viciada no sistema escravocrata, dividindo a sociedade entre incluídos e excluídos, estes até hoje identificados com a raça negra. A abolição não eliminou o preconceito contra negros. O Brasil ainda é um país de escravismo ainda não superado totalmente. Os séculos consolidaram o preconceito e formaram o racismo. 

A principal causa vem da forma desigual como a educação de base é oferecida conforme a renda e ao fato de que muitas das famílias de baixa renda são negras. O sistema escolar brasileiro segrega brancos de negros. As raças não se misturam em escolas de qualidade, e, por isso, a elite intelectual é predominantemente branca, fortalecendo o preconceito e o racismo. É como se brancos, por terem renda, tivessem cotas reservando para eles quase todas as vagas no ensino superior de qualidade. 

O caminho correto para superar o preconceito e o racismo é a implantação de um Sistema Nacional Público Único de Educação de Base que ofereça a mesma escola para ricos e pobres e, portanto, para negros e brancos, desde a primeira idade. Quando isso ocorrer, o preconceito e o racismo desaparecerão pela convivência entre brancos e negros na mesma escola e também porque o ingresso na universidade passará a ser disputado nas mesmas condições. Quando as escolas tiverem a mesma qualidade, a cor da cara da elite terá a variedade das cores da cara do povo brasileiro. 

A elite econômica sabe do risco que isso provocará nos seus interesses e, ainda que esteja contra o racismo, continua a favor do “rendismo” como forma de segregação escolar. Enquanto o Brasil não tiver um sistema educacional que não discrimine crianças conforme a renda, será preciso reservar vagas nas universidades para negros, de maneira a impedir a atual reserva de quase todas elas para os brancos. 

Para isso, precisamos redondear as escolas, dando-lhes a mesma qualidade. As cotas para negros na universidade não vão abolir o racismo, mas diminuem o preconceito, porque a sociedade se acostuma a ter profissionais negros de nível superior. O preconceito diminuirá se nossos melhores médicos e cientistas forem negros, tal como é Pelé para o futebol, porque a bola é redonda para todos, brancos, negros, ricos e pobres. Cotas para negros são necessidade nacional, não benefício individual. 

Quem se beneficia é o país ao dar um toque de preto na cara da elite e quebrar um pouco o preconceito racial. Por isso, a cota para negros ingressarem no ensino superior tem que permanecer até quando o preconceito desaparecer, depois da implantação do Sistema Nacional Público Único de Educação de Base. 

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