A falta de renovação trouxe para 2022 um candidato que, em 1989, disputou a primeira eleição direta depois do golpe de 1964; e faz com que nem ele nem os outros candidatos representem propostas novas para o Brasil do futuro. Seria melhor que novas lideranças, partidos e discursos tivessem surgido e se afirmado no eleitorado, mas felizmente Lula e o PT sobreviveram com força no eleitorado, para participarem da luta democrática contra a tragédia da reeleição de Bolsonaro. 

Para isso, Lula precisa perceber que os propósitos da eleição de 2022 são diferentes de 1989, que não é hora de fortalecer o PT, é hora de salvar a democracia. Lembrar que, em 2018, seu candidato perdeu devido ao voto nulo de milhões de eleitores que não queriam Bolsonaro, mas rejeitavam o PT. Essa rejeição pode se ampliar agora. Para evitar a rejeição e o voto nulo, precisa reconhecer as dúvidas e descontentamentos que ainda pesam sobre o PT.

A população já sabe que, pessoalmente, Lula foi condenado em julgamentos sob suspeição de parcialidade, mas o PT precisa parar o negacionismo de que não houve corrupção em seu governo. O PT e Lula precisam parar de repudiar os votos de milhões de eleitores descontentes com Bolsonaro, mas considerados golpistas, por terem ido às ruas entre 2013 e 2015 manifestando descontentamento e pedindo o impeachment de um governo do PT. 

Lula precisa se afastar dos discursos de apoio a regimes autoritários e de sugestões de controle da mídia. Perceber que os sindicatos representam a parte moderna dos trabalhadores; que o interesse das estatais e seus empregados não é sinônimo dos interesses do povo. Lula precisa defender reformas fundamentais para o Brasil do futuro.

Precisa ter a grandeza de perceber que 2022 não é apenas mais uma eleição política para o PT vencer, é uma encruzilhada histórica para a democracia atravessar. Está em jogo mais do que chegar outra vez ao poder; é hora de ser parte do grande movimento de garantia da democracia, enfrentamento da tragédia social, atraso da economia e degradação ambiental, em uma grande aliança de todos os democratas.
Deve ser o partido não apenas dos trabalhadores, mas de todos.

Os democratas que não querem o PT precisam perder seus preconceitos contra Lula, os petistas e Lula precisam perder a arrogância de que vencem sozinhos, governam sozinhos, guiados por suas doutrinas, ideias e propostas muitas delas obsoletas, de uma realidade passada, algumas tão negacionistas quanto as de Bolsonaro. Em 1985, o PT optou pelo voto nulo, em vez de se unir aos democratas contra a continuidade da ditadura, seus votos eram poucos e não fizeram falta, agora sua força será decisiva entre barrar ou deixar continuar a tragédia Bolsonaro.