CRISTOVAM BUARQUE

Um livro despertador de consciência

Redação O Tempo


Publicado em 19 de agosto de 2011 | 00:00
 
 
 
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Para quem estiver entusiasmado com o pré-sal, sugiro que se lembre do nosso "pré-sal" anterior: as minas de ouro, prata e pedras preciosas de Minas Gerais, no século XVIII. Para ver os resultados daquele pré-sal, sugiro o recente livro de Lucas Figueiredo "Boa aventura: a corrida do ouro no Brasil (1697-1810)", publicado pela editora Record.


É surpreendente como aquela aventura deu certo, com o ouro sendo explorado, transportado e finalmente entregue ao enriquecido Portugal. Foram precisos milhares de brasileiros, muita cobiça e coragem, pouca generosidade e a escravidão de índios e negros para encontrar o ouro anunciado.


Foi completamente diferente da realidade do pré-sal de hoje, quando a geologia mostra com alta probabilidade a existência e o tamanho das reservas de petróleo; com uma exploração que, apesar das dificuldades tecnológicas, será feita sem a necessidade de esforço pessoal, sem qualquer risco de vida, somente financeiro.


Naquele tempo, o ouro brasileiro enriqueceu Portugal por alguns anos e o empobreceu por séculos. Ao ter nosso ouro e pedras preciosas, D. João V e os reis seguintes foram os mais ricos governantes da época. Usaram o dinheiro que saía da terra de Minas Gerais para a ostentação - o consumo da época -, construindo palácios, colocando mármores no cais do porto, pendurando ouro e pedras preciosas nos pescoços e em altares de igrejas, e para comprar os produtos industriais da nova indústria inglesa.


Ao ler o livro, somos levados a pensar como seria hoje Portugal se o ouro brasileiro tivesse financiado indústrias, atraído engenheiros que inventaram as máquinas inglesas e servido para educar os portugueses.


Quase todos os países com petróleo, no século XX, padeceram de uma maldição: o dinheiro fácil levou à ostentação, como a dos reis de Portugal, ao desperdício e à dependência. Como diz Lucas Figueiredo, antes de Brás Ventura, "Portugal fez o mundo rodar e continuou no mesmo lugar". Uma metáfora perfeita para um país exportador de petróleo.


O Brasil corre esse risco. Em primeiro lugar, pelo adiamento de nossas tarefas urgentes, na expectativa do dinheiro do pré-sal. Segundo, porque quando esse dinheiro chegar, correrá o risco de ser usado para o desperdício nos palácios. Antes eram para os reis morarem, agora para servirem como repartição pública ou estádios de futebol. Diferentemente de Portugal antigo, agora, sabemos o que fazer para transformar o petróleo em uma fonte permanente de riqueza: investir todo o lucro na educação de base.


Naquela época, os reis não podiam antecipar o futuro como hoje nós podemos em relação ao dinheiro que teremos do pré-sal. Se usarmos bem o pré-sal será uma bênção, caso contrário, será uma maldição.


O livro do Lucas Figueiredo, além de uma deliciosa leitura, é um despertar da nossa consciência.

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