DANIEL BARBOSA

Bardo do Bar: do Sinfrônio

Redação O Tempo


Publicado em 20 de março de 2015 | 03:00
 
 
 
normal

Se bem me lembro, já disse aqui que o bar do Sinfrônio não tem uma clientela fixa. Como fica na praça da Estação, próximo aos pontos finais de coletivos que levam aos bairros mais periféricos da capital, tem uma rotatividade alta. É, por assim dizer, um boteco de passagem. Por isso estranhei quando, chegando lá, encontrei as pessoas conversando entre si, como se fossem fregueses habituais, velhos conhecidos. Demorou um pouco até eu entender que a motivação do burburinho era uma mulher que havia passado por ali.

O bar do Sinfrônio está longe de ser um ambiente familiar, e as mulheres que eventualmente aparecem por lá ou são vendedoras ambulantes que trabalham no baixo centro ou prostitutas. A que gerou todo aquele rumor aparentemente não era uma coisa nem outra. Pelas conversas cruzadas, entendi que era uma moça bonita, bem vestida, de gestos elegantes, completamente destoante do ambiente, que chegou, escolheu uma mesa de canto e ficou lá, sentada e em silêncio, durante uns 40 minutos, bebendo água.

Um dos garçons aventou a hipótese de que fosse alguma espécie de pegadinha e que todos ali estavam sendo filmados. “Não faz sentido, pegadinhas têm um desfecho. Ela só chegou, ficou um tempo, foi embora e nada aconteceu”, ponderou um homem vestindo a camisa de uma empresa de viação. “Ela deve estar fazendo alguma pesquisa”, considerou uma senhora em trajes puídos que, ao balcão, bebia um copo de cachaça. “Ela não escreveu nada, não tirou foto, não conversou com ninguém. Como se faz uma pesquisa assim? Acho mais provável que ela tenha combinado de se encontrar com alguém que deu o cano”, retrucou um sujeito que mordiscava um torresmo.
Entre uma hipótese aqui e uma especulação acolá, houve até quem sugerisse que a tal mulher pudesse ser um fantasma. “Como a loura do Bonfim, sabe? Senti uma coisa estranha no ar enquanto ela estava por aqui, uma energia ruim”, disse o sujeito que tinha colocado sua caixa de engraxate rente ao balcão. “Que eu saiba fantasmas não bebem água. E mais, dizem que fantasmas sabem para quem aparecem. Essa aí, se era uma fantasma, é das bem pouco seletivas”, opinou o Sinfrônio. O assunto rendeu até que a última pessoa que estava ali no momento em que a tal mulher misteriosa apareceu fosse embora.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!