DANIEL BARBOSA

Breviário de introspecções musicais X

Redação O Tempo


Publicado em 29 de julho de 2016 | 03:00
 
 
 
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Joy Division, Bauhaus, The Young Gods, Love Rockets, Einztürzende Neubauten e também The Lunachicks, Stooges, P.I.L. e Babes in Toyland eram algumas das bandas que ecoavam dos alto-falantes do Cannibals, casa noturna que entre os anos 80 e início dos 90 ocupou um sobrado na esquina da avenida Cristóvão Colombo com rua Tomé de Souza. Era um reduto enfumaçado e escuro de punks e góticos, que, inebriados pelo som, pelo frenesi estroboscópico e pela luz negra, se contorciam em danças esquisitas, com o topo da cabeça encostado em alguma parede e o corpo girando em torno de um eixo imaginário. O espaço, que posteriormente abrigou o Blue e outras boates com propostas musicais distintas, tinha feição de casa, já que era dividido em cômodos, pelos quais se espalhavam umas poucas mesas e cadeiras. Não posso dizer que fui muito, porque quando comecei a frequentar ele já estava perto de seu ocaso.

Mais ou menos na mesma época, uns poucos anos mais tarde, era o rap, sobretudo, e também o punk e o hardcore que ditavam o ritmo na Broaday. O cardápio dos DJs Roger Moore e Jeff costumava oferecer Public Enemy, House of Pain, Cypress Hill, Racionais MCs, Thaíde e DJ Hum, Body Count, Run DMC, Dr. Dre e afins para um público bastante heterogêneo, que abarcava tanto os manos da comunidade quanto a moçada alternativa da zona Sul. Situado nos fundos de um açougue, na rua Mármore, em Santa Tereza, o ambiente era também enfumaçado e exíguo, apenas um cômodo, sem janelas, a que se chegava por um corredor. Quase nunca era possível reparar o dia clareando la fora. Fui muito.

Com endereço na rua Fernandes Tourinho, em frente ao Estadual Central, o Squat foi outro covil de boa música que marcou aquele período. Diferentemente do Cannibals ou da Broaday, o Squat tinha espaço para shows e recebia periodicamente bandas que formavam uma incipiente cena independente, como Os Baratas Tontas, Chemako, Okotô, Virna Lisi, Pato Fu antes do “Rotomusic de Liquidificapum”, Little Quail and the Mad Birds, a banda que o Gabriel Thomaz manteve antes de fundar o Autoramas, e, salvo engano, também Linguachula e Killing Chainsaw. A noite por lá também passava numa velocidade incrível. Fui muito.

Texto originalmente publicado em 8.4.2016

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