Desde as minhas primeiras memórias, eu sabia que queria estar no meio do esporte. Meu pai gosta de me contar que, quando eu tinha por volta dos 5 anos, passava pelos canais da televisão até achar um jogo. Qualquer jogo.
Adolescente, no início dos anos 2000, me apaixonei pelo vôlei. Um esporte bonito, plástico e de muita habilidade. O problema é que cresci só até 1,60 m, então, me restou apreciar o voleibol do lado de fora das quadras. E apreciei demais, ainda mais que Minas Gerais sempre foi terreno fértil.
Para mim, foi em Pequim 2008 que a nossa seleção mostrou para o mundo o cartão de visitas. Uma medalha de ouro olímpica, perdendo apenas um set na competição inteira? Isso, sim, é o voleibol brasileiro. Paula Pequeno, Mari, Sheilla, Thaísa, Fabizinha, Walewska, Jaque e outras passaram a ter status de ídolos, não só para mim, mas para toda uma geração amante do esporte.
É por isso que a notícia da morte precoce da Walewska me atingiu como uma pedra. Às vezes tenho a sensação de que os ídolos são eternos. Assim como todo o esporte brasileiro, acordei de luto nesta sexta-feira (22/9).
Muito antes de ser campeã olímpica e ter o seu nome eternizado na história, Walewska era só uma menina, que aos 12 anos pegava o ônibus 2004 no bairro Jaraguá para bater uma bola no Minas Tênis Clube. E a garota tímida, que tinha uma altura distintiva e “até levava jeito para o esporte”, como brincou seu primeiro treinador, se tornou uma das maiores centrais do país.
Como torcedora, sei que por onde jogou ela foi exemplo de seriedade, profissionalismo, inteligência e habilidade. Fez a diferença com todas as camisas que vestiu, sem estrelismo. Na bola. Como jornalista, comemorei como uma atleta que conquista um título de Superliga, a primeira vez que confirmei uma entrevista com ela, na véspera da sua última final da liga nacional.
O que para mim, naquele momento, foi um sonho, para ela foi um bate-papo. Walewska me tratou como uma velha conhecida, deu risadas, contou histórias, explicou tática e muito mais. Como mulher incrível que era, pontuou, imediatamente, estar honrada em falar sobre esporte com outras três mulheres. Eu, Dimara Oliveira e Rosane Meireles. Mas a honrada era eu. Foi para viver esses momentos que sempre sonhei em estar no meio do esporte.
Recentemente, acompanhava com interesse o seu momento pós-aposentadoria. Lançamento de livro e documentário, com objetivo de contar sua história rica para inspirar tantas outras meninas que poderiam ser como ela; ou como eu.
A perda de Wal me bate como uma pedra porque tenho certeza de que ela tinha muitos outros capítulos dessa história incrível para contar. É uma pena que os ídolos não sejam, como eu queria, eternos. Mas tenho certeza de que seu legado será.