A série Tremembé, do Prime Video, reacendeu o interesse do público pelos casos reais que inspiraram sua narrativa – em especial, o de Suzane von Richthofen, condenada pelo assassinato dos pais em 2002.

Mas o que a série mostra é mesmo verdade? E até onde vai a ficção? A seguir, explicamos o que é fiel à história real de Suzane e o que foi criado pelos roteiristas para dar mais dramaticidade e profundidade à trama de Tremembé.

O que é verdade: o crime que chocou o Brasil

A base da história da personagem é real. Em 31 de outubro de 2002, Suzane von Richthofen, então com 18 anos, planejou com o namorado Daniel Cravinhos e o irmão dele, Cristian, o assassinato de seus pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em São Paulo. O crime foi motivado por conflitos familiares, oposição ao relacionamento e disputa por herança.

A execução ocorreu enquanto os pais dormiam. Daniel e Cristian os agrediram com barras de ferro, enquanto Suzane ajudou a encobrir o crime, simulando um assalto e dormindo fora de casa para criar um álibi. O caso foi descoberto dias depois, e a confissão chocou o país pela frieza e pela quebra do tabu familiar.

Na série, o crime é mostrado em flashbacks fragmentados, com detalhes alterados, mas mantendo a essência da história: uma jovem de classe alta envolvida no assassinato dos pais e julgada pela sociedade como símbolo da maldade e da ambição.

O que é verdade: o presídio de Tremembé e a convivência com outras presas

Outro ponto real é o cenário da prisão. Suzane cumpriu boa parte da pena na Penitenciária Feminina de Tremembé, em São Paulo – a mesma que dá nome à série. Lá, ela conviveu com outras mulheres famosas condenadas por crimes de grande repercussão, como Elize Matsunaga e Anna Carolina Jatobá.

A série retrata fielmente o ambiente do presídio: as celas pequenas, o pátio, as divisões entre grupos e o cotidiano de tensão e solidariedade. As dinâmicas entre as personagens também refletem situações reais relatadas por ex-detentas e ex-funcionárias do sistema carcerário paulista.

De fato, Suzane manteve bom comportamento durante o período em que esteve presa, trabalhou na oficina de costura e participou de atividades religiosas e educacionais, aspectos que a série incorpora em sua versão ficcional.

Tremembé
Tremembé

O que é ficção: nomes, falas e conexões

Na série, as conversas entre presas, cenas de brigas e confissões íntimas são totalmente dramatizadas.

Não há registros públicos de confrontos diretos entre Suzane e outras detentas famosas, como sugere a trama. Esses embates são recursos narrativos criados para representar conflitos simbólicos, como o embate entre arrependimento e negação, ou culpa e autopreservação.

Também são ficcionais os diálogos da personagem com jornalistas e advogados, bem como os flashbacks que exploram sua relação familiar. Eles foram inspirados em entrevistas reais, mas adaptados para construir uma versão mais emocional e introspectiva da história.

O que é meio-termo: o julgamento público

Um dos temas centrais de Tremembé é o papel da mídia e do público na construção da imagem de Suzane. Isso é ao mesmo tempo real e dramatizado.

Desde o crime, Suzane foi amplamente coberta por telejornais, revistas e programas de TV. Seu comportamento, aparência e até seus gestos foram analisados e julgados em rede nacional. A série se apropria desse fenômeno, recriando entrevistas fictícias e cenas de repórteres perseguindo as presas, para discutir como a sociedade transforma tragédias em entretenimento.

Embora algumas situações tenham sido exageradas para efeito dramático, a mensagem é fiel à realidade: Suzane se tornou um ícone involuntário do sensacionalismo criminal brasileiro.

A mistura de realidade e arte

Tremembé não é uma biografia literal de Suzane von Richthofen, mas uma interpretação artística e psicológica de sua história. A série utiliza o caso real como ponto de partida para discutir temas universais – culpa, perdão, recomeço e o papel da opinião pública na construção de vilões e vítimas.

A produção também se distancia de um tom documental, preferindo o olhar de ficção que humaniza sem absolver. O público é levado a compreender, mas não necessariamente a perdoar.

Os cinco episódios de Tremembé estão disponíveis no Prime Video.

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