E também recapitulando frases perolares do livro de Joaquim Ferreira dos Santos, “Enquanto Houver Champagne, Há Esperança”, biografia do jornalista e colunista social Zózimo Barroso do Amaral (1941-1997). Lamentando, com nostalgia, o Rio de Janeiro dos anos dourados, já nos idos dos anos 1980: “Quem pensa em dinheiro, não ganha dinheiro. Hoje quase não há família, só pessoas jurídicas”.
Relendo e rindo
“Novo rico me incomoda muito, mas novíssimo rico incomoda muito mais”. “O Nordeste bota turista pelo ladrão. O Rio bota ladrão para turista”. “O problema de Brasília é o tráfico de influência. O do Rio é a influência do tráfico”. “Depois de uma certa idade, o homem da cintura para cima é poesia, da cintura para baixo, prosa”.
Rindo amarelo
Em 1981, cansado, numa entrevista à “Playboy”, Zózimo desabafou sobre as noites cariocas: “As pessoas são sempre as mesmas, a comida é a mesma, os garçons. Tudo pasteurizado. A vida social está em baixa. Os salões mudaram, as noites são fracas e pobres, bregas! Uma mesmice, tudo vulgar. Em endereços residenciais tradicionais, as pessoas recebem menos, por medo de ostentar”.
Amarelo amarelado
Esnobismo “é chegar em casa à noite, olhar em cima da mesa três ou quatro convites para eventos sociais de expressão. Depois, vestir uma roupa qualquer, uma capa velha e ir ao cineminha da esquina. Agora, o cúmulo da infelicidade é chegar em casa, não ver nenhum convite sobre a mesa, vestir uma roupa qualquer, uma capa velha e ir ao cineminha da esquina”.
Amarelado e mofado
Avesso a sedutores convites, o jornalista fez uma opção “cool”. Por sinal, desde 2015, concordamos com Zózimo, lá e aqui. Com preços altos da noite e do entretenimento, a prática de curtir amigos em casa ganha preferência e vantagens. Curtir os amigos verdadeiros, sem pompa, mas com muita alegria, é um luxo.
Mofado e profético
Nos mesmos anos 1980, Rita Lee joga a pá de cal com a emblemática musica “Alô, Alô, Marciano”, “down no ‘High society’”. “A crise tá virando zona. Cada um por si, todo mundo na lona. E lá se foi a mordomia, tem muito rei pedindo alforria”. Zózimo também desmascara folclores, como o de colunistas sociais viverem de eventos “boca livre”, viagens, presentes, restaurantes.
Profético e cruel
Neste capítulo, levando vida de rei, sem coroa, Zózimo não cita a realidade de seus colegas: a grana curta, com a qual a maioria dos jornalistas ainda sobrevive e morre. Ele preferia incomodar-se com figuras típicas em qualquer sociedade; os assessores de imprensa, assediando 24h; os LpM (Loucos por Mídia) e os chatos que, segundo ele, circulavam às dúzias: “além de não nos fazer companhia, roubam-nos a solidão”.
Cruel e sensato
“E também o chato gangorra, desmancha rodinha, que, ao sentar-se, faz todo o resto da mesa levantar”. Já enfadado da roda-viva social no início dos anos 70, Zózimo sentia-se um peixe fora d’água: “A sensação era a de que tinha ido a todas as festas, saboreado todos os jantares e precisava de um antiácido contra azia e má digestão”.
Sensato e desiludido
Finalizando, será? Por enquanto... Mais Zózimo: “Nossas locomotivas que puxavam o Trem de Prata carioca converteram-se em beatas de igreja”. E não é que a profecia subiu as montanhas? Sobraram o mesmo sentimento e a mesma reflexão para Belo Horizonte e sua decadência sem a glória romana.
Lança-perfume
Em BH, o glamour morava nos salões do Automóvel Clube e no Iate Clube, espaços orquestrados pelo colunista Eduardo Couri.
Eduardo Couri (1935- 1996), que, como seu contemporâneo Zózimo, era colunista social e morreu na mesma Miami, um ano antes.
Nos templos de Couri, expoentes da “alta” exibiam seus “dotes” artísticos no palco. Eram os emergentes, com origens interioranas, rurais.
Daí o “desastre” dos dublês de empresários, verdadeiros bobos da corte; o famigerado “Showçaite”. Provinciano também era seu “Glamour-Girl”, versão urbana dos bailes de debutantes do interior.
Para “bajular” o colunista e o júri, os pais das “lolitas” e os emergentes abriam suas casas para festejos. O atalho eram as “promoters”.
Como no Rio e São Paulo, por aqui, com raras exceções, as festas abundantes acabaram.
Segundo o colega Amaury Jr, a culpa é da situação econômica: “Acabou-se o que era doce. A alta sociedade levou um choque de curto circuito e perdeu o rumo. Festejar é ofensa. É ostentação nessa economia bagunçada”.
Moral da história ou resumo da ópera bufa: por trás das aparências, do glamour, existe ralação, comprometimento com o leitor.