Uma semana antes de seu casamento com a jornalista Lídia Lino, 30, o farmacêutico sanitarista Pedro Abreu, 32, realizava um trabalho com dois amigos, ambos padrinhos da união. Finalizado o serviço, ao despedir-se deles, “brincou” dizendo que se encontravam na cerimônia e pediu que o segurassem na hora do sim, caso batesse aquela vontade de fugir. Imediatamente, um desses amigos deu o cutucão que mostrou que aquela brincadeira não era muito engraçada. “Ele disse: ‘poxa, você ama a Lídia, está super feliz de se casar e vem fazer piadinha machista como se não quisesse?’. Na mesma hora eu reconheci o erro e isso virou uma ótima discussão entre nós, sobre essa ideia de que o casamento é tudo o que a mulher mais quer, e algo de que todo homem gostaria de escapar. E sobre como são coisas muito enraizadas, que ouvimos o tempo inteiro e acabamos repetindo sem pensar, como piadas que na verdade não têm a menor graça”, lembra.
Além de repensar o que é ensinado às crianças sobre ser homem e ser mulher, a transformação em direção a uma sociedade mais igualitária perpassa a revisão de seus privilégios por parte dos homens já formados, e uma mudança de atitude deles em relação a isso. Isso implica na vigilância constante dos próprios atos, como adverte o cientista político e pesquisador em teoria política feminista Breno Cypriano. “O homem tem que procurar se incomodar com esse status de dominador, opressor, assediador. E precisa ser tão ativo quanto a mulher na busca pela igualdade de gênero, porque senão a história vai se dar pela metade. Ele tem que querer a transformação e se mobilizar por ela”, diz.
Embora busque fazer essa autocrítica já há alguns anos, Pedro acredita que a chegada do filho Bernardo, que está pra nascer, vai ser um catalisador desse processo, e vai ajudar a evitar escorregadas como a que deu com os amigos. “Não tenho dúvida nenhuma disso. Por mais que eu me esforce para questionar os padrões já há algum tempo, venho de uma criação e socialização em que o machismo é um traço muito forte, sempre corro o risco de repetir algum discurso. Mas a vinda dele, definitivamente, vai me deixar mais atento, porque quero ser um bom espelho”, afirma.
Paternidade catalisadora
Na relação entre a perda de privilégios e a intrincada rede de complexos psicológicos necessários para qualquer mudança profunda, a paternidade tornou-se um contexto privilegiado e talvez o mais propício e fértil para que essa transformação se materialize, explica o antropólogo espanhol, especialista em gênero, masculinidades e paternidade positiva Ritxar Bacete. “É a experiência de amor mais profunda e comovedora que vivem os homens, por isso é uma oportunidade única para, por meio da relação emocional com os filhos, sua presença ativa e os cuidados dispensados, gerar mudanças duradouras na identidade dos homens como seres cuidadores e empíricos. A partir da experiência de paternidade igualitária, comprometida e solidária, melhoram as relações do casal, a satisfação das mulheres, se produz um desenvolvimento comprovado das inteligências múltiplas nas crianças e até melhora a autoestima e autocuidado dos próprios homens. Assim, por meio da responsabilidade do pai nos cuidados com os filhos, se transformam as relações de gênero e, portanto, mudamos o mundo em que vivemos”.
Outra ferramenta indispensável para a mudança são as políticas públicas. “A educação formal também é essencial nesse processo. Por isso, foi uma grande perda terem retirado os temas identidade de gênero e sexualidade nas escolas do Plano Nacional de Educação (PNE), no ano passado”, afirma Adla Teixeira, professora da Faculdade de Educação da UFMG e coordenadora do Grupo de Estudos em Gênero, Sexualidade e Sexo. “Ao contrário do que se pensa, o intuito desses temas não é a destruição do modelo tradicional de família, mas trazer noções sobre planejamento familiar, segurança nas relações sexuais, identificação de abusos, doenças sexualmente transmissíveis. Não é simplesmente falar de rosa e azul, é dar conhecimento seguro para os jovens, pra que não se forme uma geração de desinformados”, assegura a professora, que acrescenta que, em âmbito estadual, esse assunto ainda está em discussão.
Além da questão da educação, é preciso que haja políticas públicas que negociem a divisão das tarefas domésticas, o cuidado das crianças e dos idosos, como assinala o cientista político e pesquisador em teoria política feminista Breno Cypriano. “Existe um aparato essencial de leis com relação à proteção da mulher contra a violência, mas ainda não há nada pela transformação na forma como os homens são criados. A licença-paternidade, nesse sentido, é fundamental. E também é preciso buscar transversalidades na aplicação dessas políticas, a partir da perspectiva de gênero – e de raça, que fundamentam as desigualdades brasileiras. Ou seja, se for algo relacionado à agricultura, tem que se pensar nas mulheres rurais. Se for esporte, nas atletas. E assim por diante”.
LANÇA-PERFUME
Sobre a Paella do Navarro, para o titular da coluna, eventos dessa natureza são salutares para a geração da segunda idade e meia, carente de espaços e festas.
Vale lembrar também o apetitoso tempero da paella de frutos do mar feita pelo chef Pedro Guerra, do Ateliê Gastrô, e a deliciosa harmonização com as cervejas Krug Bier, Chandon e Vodka Belvedere.
Domingo eve almoço e tarde de degustação de cervejas Krug Bier no casarão colonial de Isabel e Herwig Gangl, no Condomínio Vila Del Rey.
Foi em torno de uma sessão de vídeo do programa Paulo Navarro, no qual visitamos a fábrica da Krug Bier e o lançamento da nova linha Expressionista com a família, chegados de primeira hora e o mestre cervejeiro Alfredo Figueiredo. Também estiveram presentes Helena e Marcelo Bruzzi.
O hotel Ramada Encore Luxemburgo é o novo endereço para quem curte a onda de baladas no topo dos edifícios. O projeto “RoofTop” estreou em abril e agora acontece todas as quintas, das 21h às 3h, assinado pelo DJ Leandro Rallo.
Leandro Rallo também comanda o som do Parrilla Del Mercado, todas as primeiras sextas do mês, das 15h às 20h.
Faça login para deixar seu comentário ENTRAR